A singularidade da Antropologia

• A antropologia é uma disciplina intelectualmente desafiante e teoricamente ambiciosa, que tenta compreender a cultura, a sociedade e a humanidade através de estudos pormenorizados da vida local, que ganham sentido através da comparação e da contextualização. Mas é também uma forma de contar histórias sobre as vidas que poderíamos ter vivido, mas não o fizemos porque estávamos ocupados a viver as nossas próprias vidas.
• Como profissão e como ciência - por vezes até como vocação - a antropologia tem ambições mais grandiosas do que oferecer chaves para a auto-compreensão individual, ou levar histórias de viagens ou textos políticos às pessoas.
• Ao nível mais profundo, a antropologia levanta questões filosóficas às quais tenta responder explorando a vida humana em diferentes condições, dizendo assim algo não só sobre o que significa ser humano, mas também sobre o mundo em que vivemos. A um nível ligeiramente menos elevado, pode dizer-se que a tarefa da antropologia é criar espanto, mostrar que o mundo é simultaneamente mais rico e mais complexo do que normalmente se supõe.
• Para simplificar um pouco, pode dizer-se que a antropologia oferece essencialmente dois tipos de conhecimentos. Em primeiro lugar, os seus praticantes produzem conhecimentos sobre a atual variação cultural no mundo. Em segundo lugar, a antropologia oferece métodos e perspectivas teóricas que permitem ao profissional explorar, comparar e compreender estas expressões variadas da condição humana. Por outras palavras, a disciplina oferece tanto coisas para pensar como coisas para pensar com elas.
• Mas a antropologia não é apenas uma caixa de ferramentas; é também um ofício que ensina ao principiante como obter um certo tipo de conhecimento e sobre o que esse conhecimento pode dizer alguma coisa. Tal como os carpinteiros ou os jornalistas, todos os antropólogos partilham um conjunto de competências profissionais.
• A antropologia não é a única a estudar academicamente a sociedade e a cultura. A sociologia descreve e explica a vida social, especialmente nas sociedades modernas, com grande amplitude e profundidade.
• As ciências sociais representam alguns dos mesmos interesses e tentam responder a algumas das mesmas questões, embora também existam diferenças.
• Antropologia significa, traduzido literalmente do grego antigo, o estudo da humanidade.
• Enquanto disciplina universitária, a antropologia não é uma matéria muito antiga mas desde a antiguidade que levanta questões formuladas sob diferentes formas: As diferenças entre os povos são inatas ou aprendidas? Porque é que existem tantas línguas e até que ponto são realmente diferentes? Todas as religiões têm algo em comum? Que formas de governação existem e como funcionam? É possível classificar as sociedades numa escala de acordo com o seu nível de desenvolvimento? O que é que todos os seres humanos têm em comum?
• Enquanto disciplina universitária, a antropologia não é uma matéria muito antiga mas desde a antiguidade que levanta questões formuladas sob diferentes formas (2): E, talvez o mais importante: Que tipo de criaturas são os humanos? São animais agressivos, animais sociais, animais altruístas, ou são, talvez, os únicos animais que se definem a si próprios no planeta?
• Todas as pessoas que pensam têm uma opinião sobre estes assuntos. (3): Estas questões dificilmente podem ser respondidas de uma vez por todas, mas podem pelo menos ser colocadas de uma forma correcta e informada. O objetivo da antropologia é estabelecer um conhecimento tão detalhado quanto possível sobre a vida humana na sua diversidade espantosa e desenvolver um aparelho concetual que permita comparar mundos de vida e sociedades. Isto, por sua vez, permite-nos compreender tanto as diferenças como as semelhanças entre as muitas formas diferentes de ser humano.
• O grande enigma da antropologia pode ser formulado desta forma: Em todo o mundo, os humanos nascem com o mesmo aparato cognitivo e físico e, no entanto, transformam-se em pessoas e grupos distintamente diferentes, com diferentes tipos de sociedade, crenças, tecnologias, línguas e noções sobre a vida boa. As diferenças nos dons inatos variam dentro de cada grupo e não entre eles, de modo que a inteligência, a intuição e outras qualidades que variam de pessoa para pessoa estão distribuídas de forma bastante homogénea a nível mundial. Na medida em que essas diferenças existem, não são inatas.
• Todos os seres humanos nascem com o potencial de viver milhares de vidas diferentes, mas acabam por viver apenas uma. Uma das tarefas centrais da antropologia consiste em dar conta de algumas das outras vidas que poderíamos ter vivido.