Cultura é Partilhada

• A cultura consiste nas práticas e entendimentos partilhados numa sociedade. Até certo ponto, a cultura baseia-se em significados partilhados que são, em certa medida, "públicos" e, por conseguinte, ultrapassam a mente de qualquer indivíduo. Parte desta cultura existe antes do nascimento de um indivíduo na sociedade e pode continuar (de alguma forma) para além da morte de qualquer indivíduo em particular. Estes significados partilhados publicamente fornecem projetos ou receitas para sobreviver e contribuir para a sociedade. Por outro lado, a cultura também está na mente dos indivíduos.
• As crianças descobrem os significados do dinheiro observando as práticas e aprendendo os vários símbolos que são públicos. No entanto, as crianças não são apenas assimiladoras passivas desse conhecimento cultural. Os antropólogos cognitivos destacam os esquemas, ou modelos culturais, que são interiorizados pelos indivíduos e têm influência na tomada de decisões e no comportamento. Destacam a forma como a cultura é adquirida e modelada como esquemas nas mentes individuais e pode motivar, moldar e transformar os símbolos e significados.
• Os antropólogos contemporâneos reconhecem que os conhecimentos culturais não são partilhados de forma igual por todos os membros de uma sociedade. Mesmo em sociedades de pequena escala, a cultura é partilhada de forma diferente por homens e mulheres ou por jovens e idosos.
• Alguns indivíduos nas sociedades de pequena escala têm um grande conhecimento sobre agricultura, práticas médicas ou crenças religiosas; essas crenças e esse conhecimento não são distribuídos de forma igual. Na nossa complexa sociedade industrializada, a cultura consiste numa enorme quantidade de informação e conhecimento sobre tecnologia e outros aspetos da sociedade.
• Pessoas diferentes aprendem aspetos diferentes da cultura, como reparar carros ou televisores, compreender a física nuclear ou os regulamentos fiscais federais, ou compor música. Por isso, até certo ponto, a cultura varia de pessoa para pessoa, de subgrupo para subgrupo, de região para região, de grupo etário para grupo etário.

  região, de grupo etário para grupo etário e de género para género.
• Os antropólogos contemporâneos também notam como a cultura é "contestada", referindo-se à forma como as pessoas questionam e podem fundamentalmente discordar e lutar sobre as especificidades da cultura. No entanto, apesar desta variação, alguns entendimentos culturais comuns permitem aos membros da sociedade adaptarem-se, comunicarem e interagirem uns com os outros. Sem alguns destes entendimentos comuns, uma sociedade não poderia existir.
• Uma compreensão antropológica recente da cultura, por vezes designada por abordagem epidemiológica, baseia-se nos domínios da ciência cognitiva e da psicologia cognitiva para discutir a forma como a cultura se propaga como uma doença contagiosa de uma pessoa para outra. Assim, as crenças religiosas, as receitas culinárias, os contos populares e até as hipóteses científicas são ideias ou representações da mente humana que se propagam entre as pessoas num ambiente comum. As cadeias de comunicação propagam estas crenças ou representações culturais no seio de uma população.
• Abordagem epidemiológica (2): Tal como acontece com a propagação de uma doença contagiosa, algumas representações são adotadas e mantidas em determinadas populações, ao passo que outras crenças ou representações não são bem aceites por grupos específicos e são extintas.
• Abordagem epidemiológica (3): Além disso, algumas crenças ou representações espalham-se e mantêm-se mais facilmente numa população porque são mais facilmente adquiridas do que outras crenças. Por exemplo, alguns contos populares ou narrativas religiosas são facilmente mantidos numa população, em contraste com fórmulas matemáticas abstratas altamente complexas e narrativas baseadas em descobertas científicas.
• Abordagem epidemiológica (4): A abordagem epidemiológica da cultura é amplamente utilizada por antropólogos cognitivos para estudar a forma como a cultura é transmitida e mantida nas populações.