Regras Prescritivas e Preferenciais?

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  • Lévi-Strauss considerava o princípio do casamento entre primos como uma expressão fundamental da reciprocidade entre grupos de parentesco com um sistema de parentesco elementar. Segundo ele, estes grupos teriam também regras de casamento positivas e negativas. Esses sistemas elementares teriam também sistemas de descendência unilinear e trocariam mulheres a nível do grupo.
  • Rodney Needham, tradutor e crítico de Lévi-Strauss, defendia que o modelo deste último só era válido em sociedades com regras matrimoniais prescritivas, ainda que a distinção entre sistemas prescritivos e preferenciais (que Needham propôs) não tenha sido elaborada em The Elementary Structures of Kinship.
  • Lévi-Strauss rejeitou este ponto de vista (crítica) e afirmou que considerava o átomo do parentesco como uma estrutura elementar universal, que a sua teoria sobre a troca de mulheres era válida para todas as sociedades unilineares e que a distinção entre sistemas prescritivos e preferenciais era irrelevante. Na prática, argumentou, os chamados sistemas prescritivos são preferenciais e, em teoria, os chamados sistemas preferenciais são prescritivos. Assim, as prescrições só existem a nível normativo e, na prática, essas regras nunca são seguidas na perfeição.
  • Assim, parece necessário distinguir entre categorizações de pessoas com as quais se pode ou não casar (como as regras de exogamia) e preferências culturais relativas a quem é particularmente benéfico casar.
  • Para os indivíduos, as práticas matrimoniais podem ser entendidas como regras prescritivas se os seus pais organizarem o casamento, mas a nível social seria enganador utilizar este modelo como uma descrição das práticas globais. Aquilo a que Lévi-Strauss se refere como regras prescritivas corresponde simplesmente às categorias que os membros da sociedade pensam; a distinção de Needham permite distinguir entre estas categorias e as estratégias que os actores seguem para atingir objetivos específicos, culturalmente definidos.
  • Mesmo o conhecimento perfeito das categorias e das regras não nos permite prever a forma como as pessoas vão efetivamente agir. As regras e normas não são idênticas à aplicação social das regras e normas.
  • A maioria dos fenómenos de parentesco pode provavelmente ser interpretada numa perspetiva de aliança, bem como numa perspetiva de descendência.
  • Tanto as alianças como a descendência são aspetos de todos os sistemas de parentesco, embora os teóricos da descendência se tenham concentrado sobretudo nas sociedades em que as linhagens agnáticas eram particularmente importantes na organização da sociedade, ao passo que os teóricos da aliança se preocuparam mais com o estudo das sociedades em que a formação de alianças entre grupos de parentes era crucial. No entanto, é perfeitamente possível identificar alianças transversais importantes em sociedades geralmente consideradas em termos de grupos de descendência.