Parentesco e Burocracia

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  • É sem dúvida correto que as formas de organização baseadas no parentesco continuam a ser importantes em muitas sociedades depois de terem passado por processos de modernização, ou seja, depois de os habitantes se terem tornado cidadãos e contribuintes, trabalhadores assalariados e audiências de televisão.
  • Na maioria dos Estados modernos, as dinastias familiares existem no domínio das finanças (e por vezes na política) e as genealogias continuam a ser importantes para a auto-identidade individual. A família nuclear é uma instituição importante nas sociedades modernas e, em muitas dessas comunidades, o parentesco é decisivo para as oportunidades de carreira, a pertença política, o local de residência e muito mais.
  • O mercado de trabalho capitalista, porém, baseia-se ostensivamente em contratos formalmente voluntários e na realização individual - e não em compromissos de parentesco e identidade atribuída. Por isso, é habitual considerar a organização baseada no parentesco como um contraste, e uma possível ameaça, à organização burocrática caraterística tanto do mercado de trabalho como do sistema de administração política nas sociedades estatais modernas.
  • A organização por parentesco baseia-se na lealdade a pessoas específicas, enquanto a organização burocrática se baseia idealmente na lealdade a princípios abstractos, nomeadamente a lei e as obrigações contratuais. Os parentes podem ser obrigados a ajudar-se mutuamente, enquanto os burocratas se comprometem a seguir procedimentos e princípios idênticos, independentemente da pessoa com quem estão a lidar.
  • De acordo com uma ideologia de parentesco, é apropriado tratar pessoas diferentes de forma diferente; de acordo com um modo de pensar burocrático, toda a gente deve ser tratada de acordo com regras e regulamentos formais idênticos. As duas lógicas, que coexistem em praticamente todas as sociedades atuais, são assim difíceis de conciliar em teoria - representam moralidades opostas.