O Parentesco na Antropologia Atual

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  • Quer seja metafórico ou não (e quer esta diferença faça ou não diferença), o parentesco continua a ser uma preocupação central da antropologia. Na sua excelente visão geral da antropologia do parentesco, Holy recorda aos seus leitores que nem todos os antropólogos concordam com a ubiquidade e o carácter universal do parentesco. No entanto, muitos praticantes da disciplina vêem-no como um universal humano.
  • Este ponto de vista, argumenta Holy, assenta em três pressupostos: (1) Que "o parentesco constitui um dos domínios institucionais que são concebidos como componentes universais ou blocos de construção de todas as sociedades". Os outros, acrescenta, são um sistema económico, um sistema político e um sistema de crenças.
  • (2) O segundo pressuposto é a noção de que o parentesco tem a ver com a reprodução dos seres humanos e as relações entre os seres humanos que são concomitantes à reprodução".
  • (3) Por último, há a ideia de que "todas as sociedades utilizam, para diversos fins sociais, as relações genealógicas que supõem existir entre as pessoas".
  • Holy prossegue mostrando que os três pressupostos são questionáveis: o grau e a forma de diferenciação institucional variam de sociedade para sociedade; a reprodução e o parentesco biológico têm significados e implicações sociais variáveis; e as formas e a extensão em que as ligações genealógicas são estabelecidas também variam consideravelmente. Variações importantes entre os conceitos de pessoa e de parentesco podem ser encobertas por uma insistência excessiva na primazia do parentesco, quer seja visto como essencialmente biológico ou não.
  • Seja como for, a importância empírica do parentesco na maior parte das sociedades - apesar de variações importantes - garante o seu lugar como foco principal da investigação antropológica atual, sobretudo nos estudos das sociedades complexas e modernas, onde o seu significado foi provavelmente subestimado na teoria social.
  • O domínio dos estudos de parentesco é também, naturalmente, um dos principais campos de batalha entre os deterministas biológicos e os culturalistas. Sejam quais forem as complementaridades que possam existir entre as perspetivas biológicas ou evolutivas sobre a humanidade e as perspetivas que defendem a primazia das construções sociais, o parentesco tem-se revelado resistente às tentativas de integração desses pontos de vista. Poucos temas em antropologia provocam debates mais acesos do que as questões relacionadas com o biológico versus o socialmente construído no parentesco.