O corpo do etnógrafo

• Os etnógrafos têm-se empenhado com entusiasmo na questão da incorporação e, de facto, tem havido uma espécie de "viragem somática" na etnografia. O observador participante é a principal "ferramenta" da etnografia. O corpo do etnógrafo, e as sensações que regista, fazem parte do guião etnográfico.
• Usamos os nossos olhos e ouvidos em observações sistemáticas e orientadas e, claro, usamos as nossas mãos para registar as nossas perceções durante o trabalho de campo e durante a escrita e a reflexão; o trabalho de campo é necessariamente uma atividade incorporada'.
• Construímos conhecimento incorporado treinando os nossos corpos para fazer coisas que os nossos participantes fazem, tentamos adquirir o 'habitus' dos outros e treinamos os nossos corpos para se adaptarem ao campo. Mas também trazemos um "habitus", ou seja, uma história incorporada geradora, para o nosso trabalho de campo. Um dos desafios para o corpo do etnógrafo é encontrar alguma resolução entre a sua própria forma somática de estar no mundo e a do "outro".
• A observação participante pode parecer um oximoro (como é que se observa enquanto se participa?), mas não é. A observação participante é uma experiência de corpo inteiro que nos leva a observar com os olhos enquanto participamos, mas também "observamos com todos os nossos sentidos".
• O tato, o olfato, o paladar, o som e a visão juntam-se para formar o quadro de memórias, anotações e notas consolidadas que constituem a base probatória da escrita etnográfica. Os bons etnógrafos utilizam todo o seu corpo como um dispositivo de registo orgânico. O desafio para a etnografia é registar adequadamente estes sentidos como dados e depois ser capaz de se afastar da experiência corporal e analisar, interpretar e tirar conclusões destas experiências etnográficas.