Falar com as pessoas é a primeira tarefa etnográfica crucial. As conversas de abertura e as comunicações que se têm ao estabelecer projectos etnográficos são tipicamente formas de negociação e de apelo.
A negociação desempenha um papel fundamental na obtenção de financiamento, no acesso a locais de campo, na explicação e definição dos parâmetros da investigação, no compromisso com prazos e resultados potenciais e na obtenção de um acordo sobre o tempo e o esforço exigidos aos potenciaisparticipantes para a realização de um projeto.
Os etnógrafos têm de ser capazes de explicar as suas motivações intelectuais, por vezes obtusas, a um público leigo, com o objetivo de fazer avançar um projeto. Há importantes políticas sociais, históricas e culturais em jogo nestes contactos iniciais.
A lista de potenciais problemas relacionados com a política de realização do trabalho de campo é extensa. Além disso, a lista continua a crescer num mundo em que as comunicações e os movimentos de massas estão a reunir grupos de seres humanos que podem nunca se ter conhecido ou ouvido falar uns dos outros e em que, nos encontros, há uma consciência crescente da política, por vezes complicada, da aquisição de conhecimentos que ocorre na etnografia.
Acima de tudo, os etnógrafos têm de ser capazes de negociar as dimensõeséticas da sua investigação e responder às perguntas dos participantes sobre o valor da investigação para os participantes (que pode ou não ser o mesmo valor que o etnógrafo atribui à investigação).
Não há forma de fazer etnografia e evitar estas questões políticas; de facto, em alguns casos, não é aconselhável tentar minimizar o impacto destas formas de ação política, uma vez que podem ser parte integrante do mundo real, do cenário quotidiano que se pretende encontrar ao fazer etnografia. Nestes casos, é melhor não tentar microgerir estas questões, mas deixá-las desenvolver-se como parte da experiência etnográfica.
A política da etnografia não é, portanto, um problema a ser ultrapassado; é um facto social a ser negociado. Para nos equiparmos para este facto de negociação, temos de prestar atenção à moeda de negociação: a linguagem.