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  • Os etnógrafos falam muito ao longo dos seus projetos mas, em primeiro lugar, têm de negociar com os seus participantes. Uma negociação bem sucedida em etnografia depende de competências políticas e linguísticas, mas não se trata apenas de ter o 'dom da palavra'. Pelo contrário, é uma questão de ser capaz de explicar o seu projeto de investigação em linguagem leiga e de uma forma que revele adequadamente as suas intenções e gere um nível de confiança suficiente para obter a autorização do grupo de participantes para a investigação avançar.
  • A aquisição da língua, seja através de barreiras linguísticas salientes, seja ao nível do dialeto, do argot ou do calão, é uma tarefa imediata e contínua para os etnógrafos. Igualmente importante é o facto de certas circunstâncias ditarem que é ou não apropriado demonstrar a capacidade linguística de alguém. Em certas alturas da etnografia, é melhor não se esforçar demasiado para se integrar.
  • Todas as culturas têm formas corretas e incorretas de negociar e trocar informações. Fazer perguntas nem sempre é uma questão simples, e uma etnografia bem sucedida exigirá que o etnógrafo aprecie o que se faz e o que não se faz na negociação e no questionamento.
  • Os etnógrafos tentam, tanto quanto possível, reproduzir formas locais apropriadas de conversação em grupos de participantes, mas a conversação etnográfica tem uma instrumentalidade particular. Embora não se queira que o espetro da instrumentalidade interfira numa conversa etnográfica, também se deve reconhecer que as conversas etnográficas são meios muito deliberados de recolha de informação. É melhor que estes entendimentos sejam claros.
  • O etnógrafo é uma forma de dispositivo de registo que deve estar sempre
    "ligado". Nos pontos menos prováveis de uma conversa, os etnógrafos podem aprender coisas novas e valiosas. Para chegar a este ponto, por vezes é necessário que os etnógrafos relaxem o seu sentido de controlo sobre uma conversa e "sigam o fluxo". Mas cultivar um sentido de naturalidade também implica compreender a forma correta de fazer perguntas e solicitar informações no contexto etnográfico. Há muitas armadilhas na colocação de perguntas que podem inibir a conversa entre os etnógrafos e os seus participantes.
  • A entrevista é uma forma generalizada de recolha de informações na maioria das sociedades. Os etnógrafos utilizam a entrevista e fazem-no numa escala que vai do menos ao mais formal. O extremo informal do espetro, a que Spradley chama 'entrevista etnográfica', é uma forma fundamental de intercâmbio verbal em etnografia. Aprender a estruturar estas entrevistas de modo a que sejam vividas como trocas educadas ou confortáveis por parte dos participantes, e aprender a colocar questões dentro desta estrutura confortável, são competências fundamentais que os etnógrafos precisam de desenvolver.