Os homens são apanhados num conjunto de relações sociais que derivam do seu habitat, da sua condição profissional, da natureza da sua atividade e também das conceções inspiradoras da sociedade. Encontram-se associados em pirâmides de agrupamentos sobrepostos, enquadrados em sistemas sociais.
Todas as sociedades são diferenciadas: Isto por razões de ordem prática: mesmo que não tivesse justificação, esta diferenciação seria imposta às sociedades por necessidades materiais, que resultam da divisão das tarefas, da velha lei da divisão do trabalho, que se aplica a todas as sociedades. Mesmo nas sociedades primitivas existe uma distinção entre os que têm como função preservar a segurança do grupo e que combatem e os que, ao abrigo da proteção assim assegurada, trabalham para garantirem a subsistência do grupo .
Esta distinção implica outras: nos hábitos de vida, nos costumes, nos códigos.
A interdição feita aos nobres de trabalharem, cuja sanção para os que a transgredissem era a derrogação, é consequência e efeito jurídico de tal distinção (quem defende e quem trabalha).
Além da diferenciação das funções, imposta por necessidades de ordem prática, surgem outras distinções, de consideração, de estatuto jurídico, e que resultam das conceções em vigor, da representação que os indivíduos têm das relações sociais, de sistemas de valores morais e sociais. É, por exemplo, a ideia de que o serviço de Deus deve preceder todas as atividades terrenas que justifica a proeminência do clero sobre as outras ordens na sociedade do antigo regime. É uma diferenciação de funções, mas legitimada por uma conceção das relações entre o espiritual e o temporal.
A organização social é a resultante de, pelo menos, dois tipos de fatores: uns económicos e técnicos (divisão do trabalho, distribuição das tarefas, especialização profissional) e os outros culturais, intelectuais, ideológicos, filosóficos.
A sociedade do antigoregime, como todas as sociedades, é a expressão destas duas ordens de fatores.
Falando corretamente, não existe uma sociedade do antigo regime, da mesma maneira que atualmente não poderíamos falar de uma sociedade do século xxi. Sociedade do século xviii ou sociedade do século xxi são abstrações por simplificação. De uma maneira geral, devemos desconfiar sempre que se fale da realidade, social ou política, no singular: o número habitual da história e da realidade é o plural. É então das sociedades do antigo regime que é conveniente falar, mesmo que existam certas analogias ou traços comuns entre si.