As atividades profissionais: a sociedade rural

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  • À partida, devemos sublinhar a esmagadora predominância da sociedade rural sobre a sociedade urbana. Tal facto é ainda verdadeiro em 1789 para todos os países do mundo.
  • A superioridade do campo sobre a cidade estende-se a todos os aspetos da vida social. É válida para a distribuição dos homens e também para o rendimento nacional. O mesmo se passa quanto aos investimentos. A forma habitual de aplicar o dinheiro é na terra. Isto passa-se porque é considerado como mais seguro do que investir no comércio, apesar deste ser bastante mais lucrativo. As razões disto pertencem ao foro da psicologia coletiva: numa sociedade dominada por valores rurais só a posse da terra é digna de consideração, só ela enobrece. É ela que está na origem da ascensão social.
  • Sociedade rural não é sinónimode população agrícola. A distinção é importante: a população agrícola é aquela que vive diretamente do trabalho da terra, a cultiva e dela retira a sua subsistência. Comporta uma hierarquia de posições. No cume, os proprietários exploradores. No mais baixo da escala estão os que trabalham a terra sem a possuírem.
  • Entre a posse da terra e o trabalho da terra, as relações podem ser diversas e revestir múltiplas formas, que tanto se confundem como se dissociam, segundo as regiões da Europa. Os regimes que definem estas relações dependem, por um lado, de fatores propriamente económicos e, por outro, de factores jurídicos ou políticos, instituições, códigos, regras impostas pelo direito.
  • Exemplo de fator económico: o endividamento, fenómeno clássico de todas as sociedades rurais. O endividamento é um problema crónico que se põe a todas as sociedades rurais. Tem como consequência despojar os camponeses e transferir a posse da terra daqueles que a detinham para os usurários, os bancos ou os prestamistas.
  • Eis a diversidade das condições em que vive a população agrícola da Europa do antigo regime.
  • Mas a sociedade rural não se compõe unicamente dos camponeses, dos agricultores. Ao seu lado, no campo, existe igualmente uma população numerosa que não vive diretamente do trabalho da terra: artífices rurais, comerciantes rurais, todos os que exercem pequenos ofícios a meio caminho entre a agricultura e a indústria.
  • A Europa do século xviii possui uma indústria rural dispersa.
  • Na verdade, no século xviii a agricultura e a indústria não se opõem como atualmente. Hoje em dia a agricultura está no campo e a indústria na cidade; nessa época entremeavam-se.
  • Cidade e indústria não se atraem necessariamente. As cidades estão longe de serem em todos os casos centros industriais. As funções específicas das cidades são outras: função de troca, com o comércio e a banca, ou função administrativa e intelectual, raramente a atividade industrial. Reciprocamente, a indústria encontra-se pouco concentrada: não tem ainda necessidade de máquinas, de energia, de mão-de-obra importante. Pode dispersar-se pelo campo.
  • A indústria fixa-se perto dos cursos de água, que fornecem a energia para acionar moinhos, prensas de papel, forjas, martelos, ou na proximidade das florestas, que lhe dão o combustível necessário.
  • A indústria doméstica difundiu-se até nas pequenas aldeias. Muitos camponeses têm também um ofício. A indústria proporciona-lhes durante o Inverno um trabalho complementar, um salário adicional. Os mercadores fornecem-lhes a matéria-prima e revendem os produtos fabricados.
  • Há assim toda uma circulação de produtos e de trocas na qual as aldeias estão integradas. Deste modo, dada a osmose entre o trabalho da terra e a indústria caseira e dadas as obrigações impostas pelas comunidades agrícolas, a sociedade rural do antigo regime é muito diferente da nossa.