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  • Ao lado de uma burguesia que vive do comércio existe uma burguesia intelectual e da administração, uma burguesia das profissões liberais, a que gravita à roda dos parlamentos.
  • A burguesia, seja de comércio ou de função, está muito desigualmente desenvolvida através da Europa. A sua amplitude depende do grau de desenvolvimento dos países, o qual varia em função do desenvolvimento económico e a difusão dos conhecimentos.
  • No domínio económico, sabemos que as sociedades marítimas tomaram um avanço considerável em relação às sociedades continentais. É o mesmo que dizer que no Ocidente encontramos uma burguesia importante que não tem equivalente no Leste.
  • A inexistência de burguesia tem consequências para a economia e para a governação da Europa oriental. A ausência de uma classe que disponha de capitais e desejosa de os investir, instruída, culta, capaz de tomar iniciativas, força o Estado a substituir-se-lhe.
  • Na Rússia e na Prússia é o poder que suscita a indústria, que desenvolve o país. É uma das características do regime. Uma política económica de iniciativa governamental, com intervenção do Estado, é uma das características do despotismo iluminado, e não é um acaso que o mapa do despotismo iluminado coincida com o dos países onde a burguesia é praticamente inexistente.
  • Em França a situação é completamente diferente: existe desde há séculos uma burguesia importante, ativa, rica, culta, mas muito pouco audaciosa, sendo assim o Estado obrigado a desempenhar o papel de empresário. A França possui uma tradição de iniciativa governamental. Esta burguesia não desempenha em França o papel que a vemos representarem Inglaterra, onde se encontra na origem do progresso. As razões são essencialmente psicológicas e culturais e sublinham bem o peso de fatores não económicos.
  • França: Se o Estado se vê assim obrigado a substituir a burguesia é porque a burguesia se desvia da economia. Por um lado, ela compra terras, o que equivale a dizer que, no fundo, está mais ávida de consideração do que de lucros. Aspira a identificar-se com a nobreza. O código dos valores sociais desvia assim os capitais do comércio ou da indústria e esteriliza-os na compra de terras, sem que haja qualquer preocupação em modernizar a sua exploração ou melhorar o seu rendimento.
  • França: Por outro lado, a burguesia compra cargos. É a consequência da venalidade dos ofícios. Devido à organização defeituosa das finanças, a monarquia francesa nunca soube aproveitar os recursos da sua política; esteve sempre reduzida a viver de expedientes. Um desses expedientes consistia em vender os cargos de justiça e administrativos. Esses cargos tentam a burguesia, pois fornecem-lhe essa consideração de que está ávida e uma possibilidade de os seus herdeiros ascenderem à nobreza. A terra e os cargos, eis para onde vão em França os recursos da burguesia.