Se a monarquia tem atrás de si séculos de história, na sua forma absoluta é recente e o despotismo esclarecido é-o ainda mais.
Absolutismo não é sinónimo de arbitrariedade. Aquilo a que os filósofos ou os políticos chamam arbitrário no século XVIII é o despotismo, do qual encontram exemplo no Império Otomano, onde a vontade do sultão, que não é limitada por nenhuma moral nem por nenhuma lei fundamental, é a única regra. O mesmo não se passa nas monarquias absolutas da Europa ocidental.
...O mesmo não se passa nas monarquias absolutas da Europa ocidental...O absolutismo consiste num poder que não é partilhado e reside inteiramente na pessoa do rei. O seu carácter pessoal é o que os sociólogos políticos apelidam hoje de personalização do poder. A soberania é absoluta em todas as ordens, tanto no exterior como no interior: eis o significado da famosa fórmula «o rei é imperador no seu reino». É o repúdio da velha concepção medieval que admitia que acima do rei podia existir um suserano.
O rei não reconhece nem autoridade nem suserania, nem mesmo a do papa, já que o rei da França é independente da Santa Sé (o galicanismo é uma componente desta concepção de monarquia absoluta). A sua soberania é absoluta também no interior, onde todos obedecem ao rei, onde tudo lhe está subordinado.
A sua soberania é absoluta também no interior, onde todos obedecem ao rei, onde tudo lhe está subordinado. É esta a concepção que preside à noção da monarquia absoluta. A realidade só em certa medida se lhe ajusta, mas aproxima-se dela. Só ao fim de um processo de vários séculos a monarquia absoluta consegue desembaraçar-se dos entraves do feudalismo e impor a sua autoridade soberana.