A administração enfraquece o caráter pessoal

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  • Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da administração e o reforço das repartições têm como consequência alterar um traço que foi durante muito tempo fundamental para a monarquia: o seu carácter pessoal.
  • A própria essência da monarquia reside na concentração do poder nas mãos de um só, um soberano amado em si mesmo. O carácter pessoal é bem anterior ao absolutismo e à administração: o desenvolvimento do absolutismo e a extensão apagam-no progressivamente.
  • À medida que se estabelece uma rede de instituições pelas quais passa a decisão real, estabelece-se entre os vassalos e o soberano um outro tipo de relações, impessoais e anónimas: já não existem entre os nobres ou os burgueses e o monarca esses laços afetivos que, até Henrique IV, uniram os súbditos ao seu rei, mas relações jurídicas e administrativas. Esta evolução transporta os germes da ruína da ideia monárquica no espírito e no coração dos povos, pois trata-se apenas de um regime, de uma forma anónima e jurídica, e já não de uma pessoa ou de um princípio.
  • O reinado de Luís XIV representou um ponto de equilíbrio em que o aspecto pessoal e o carácter administrativo estão ainda associados, mas começam já a separar-se; no século XVIII, a divergência acentua-se. E um elemento de fraqueza que explica a relativa facilidade com que a monarquia se afundará e o sentimento monárquico definhará.