Revolução francesa ou revolução atlântica?

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  • Para que se tenha dela a medida exacta, a Revolução Francesa deve ser integrada numa perspetiva que ultrapasse o quadro da França. Os acontecimentos de 1789 inscrevem-se num movimento mais vasto.
  • Entre 1776 e 1783, o movimento mais importante que precedeu a Revolução Francesa foi a revolução americana, que constitui um fenómeno complexo no seu duplo significado. E, com efeito, uma guerra de libertação exterior, mas também uma nova contestação dos fundamentos e das formas de governo.
  • A revolução americana exercerá uma influência considerável na Europa.
  • Em França oferecem-se voluntários e La Fayette, que desempenhará um papel de primeiro plano nos começos da Revolução Francesa, deve o seu prestígio ao facto de ter combatido ao lado dos Americanos pela liberdade. Assim, a revolução americana deu um exemplo, mas também podemos dizer que contribuiu, indiretamente, para a crise pré-revolucionária.
  • Na verdade, a França recrutou tropas, travou combates terrestres e navais, forneceu subsídios, operações muito onerosas que tornaram necessário um empréstimo que comprometeu o equilíbrio do orçamento e obrigou o rei a convocar os estados gerais para financiar o défice. De tal forma que, de certo modo, é possível afirmar que a Revolução Francesa resultou da guerra de independência dos Estados Unidos.
  • Outros movimentos na Europa, mais perto da França, ocorrem nos anos que precedem 1789. A Grã-Bretanha é, nos anos de 1780, palco de uma agitação, ao mesmo tempo social e política, que reclama o alargamento do corpo eleitoral e a redução da duração da legislatura. Estas reivindicações prenunciam as reformas do século XIX. A Irlanda também se agita contra o domínio britânico. Nas Províncias Unidas, graves e prolongadas agitações opõem o povo miúdo, fiel à dinastia de Orange e que deseja a instauração de uma monarquia autoritária, aos partidários do governo patrício.
  • Por serem testemunhas ou por terem lido testemunhos sobre os acontecimentos, os contemporâneos das agitações nas Províncias Unidas, nos Países Baixos, em Genebra, em Inglaterra, não deixam de inserir os acontecimentos de 1789 em França no seu contexto de agitação quase geral, pois, o conjunto dos países que ela afeta preenchem o mapa da Europa ocidental.
  • Paralelamente à própria revolução, desenvolver-se-ão outros movimentos revolucionários por contágio ou sob a sua influência, ou ainda devido à sua intervenção armada.
  • Esta agitação prolonga-se após a revolução.
  • Assim, entre 1780 e os meados do século XIX, durante cerca de setenta anos, o mundo é abalado, em intervalos curtos, por vagas de revoluções que fazem um vasto cortejo à Revolução Francesa e permitem falar de uma era das revoluções. A sua quantidade incita mesmo alguns historiadores a falarem hoje, já não de uma revolução francesa, mas de uma revolução ocidental ou de uma revolução atlântica, cujos acontecimento sem França mais não seriam do que um episódio, um aspeto local.
  • Esta perspectiva chama a atenção para a universalidade do movimento e para o facto de o período entre 1780 e 1850 ser de uma excepcional agitação. Sublinha a inadaptação das estruturas, das instituições, a discordância entre o antigo regime e as novas aspirações. Sugere que todo o antigo regime estava em crise e que é necessário procurar as causas da revolução fora da França. No entanto, seria excessivo deduzir que a Revolução Francesa não tem nem importância própria nem originalidade específica, que não passa de um caso particular de um fenómeno mais geral no qual se diluía.