As causas políticas

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  • As causas políticas são talvez as mais determinantes de todas, pois a revolução vai atacar a própria forma do regime e a organização do poder.
  • Convém, no entanto, dissipar um equívoco. Há uma interpretação da Revolução Francesa que apresenta a revolução de 1789 como uma reação liberal contra uma monarquia cujo jugo se teria tornado demasiado pesado, contra a autoridade e o absolutismo. Tem muito disto, sem dúvida, e a tomada da Bastilha é o símbolo do derrube do despotismo por um povo que quebra as grilhetas.
  • Contudo, observando mais de perto, acabamos por interrogar-nos se a monarquia não terá perecido mais por excesso de fraqueza do que de autoridade: por não ter conseguido impor aos privilegiados o respeito pelo interesse geral. Um poder mais forte, mais respeitado, teria talvez sabido prevenir uma crise revolucionária.
  • A monarquia pretende ser absoluta, mas faltam frequentemente os meios para atingir os seus objetivos. Mal apetrechada administrativamente, desprovida de finanças regulares, não está em condições de conter as pretensões dos privilegiados. Assim, sob o reinado de Luís XVI reacende-se a luta multissecular entre a coroa e os privilegiados, os corpos multiplicam as reivindicações, os oficiais do rei emancipam-se: é a revolta dos parlamentares, a má vontade da assembleia dos notáveis, a insubordinação a todos os níveis da pirâmide social.
  • A revolução começou por ser uma revolta dos privilegiados antes de ser a revolta do terceiro estado contra a sociedade privilegiada. Foram eles que deram o sinal da desobediência e abriram, à sua custa, a via para o processo revolucionário. Se a monarquia tivesse sido mais forte, se tivesse disposto de meios ao nível das suas ambições, teria mantido os privilegiados na ordem e conseguido impor as reformas que lhe eram ditadas por uma bem entendida preocupação com a razão de Estado. Não foi isso que se passou, e todas as tentativas de reforma tropeçaram na resistência dos privilegiados.
  • Não só a monarquia não pôde impor-se, como se deixou conquistar pelos privilegiados e defendeu a sua causa. Ao fazê-lo, afastava-se da linha de conduta tradicional, a aliança com os elementos mais evoluídos do terceiro estado contra o feudalismo. O conluio que é patente nas vésperas da revolução entre o poder real e os privilegiados lançará a burguesia na oposição revolucionária. Assim se explica o desvio de um movimento que, de antinobiliárquico, se tornará antimonárquico, já que englobará a instituição régia na animosidade que vota às ordens privilegiadas.
  • Nesta relação triangular entre a monarquia, os privilegiados e o terceiro estado, o processo vai provocar a extensão da revolução. Revolta dos privilegiados, revolução antinobiliárquica, revolução antimonárquica: são estes os três estádios sucessivos de um movimento que destruirá até às raízes a ordem política e social do antigo regime.