Cards (6)

  • A ruptura de um equilíbrio não fica necessariamente a dever-se a uma revolução. A experiência demonstra que as sociedades podem escolher entre dois modos de transformação, um por mutação brusca, o outro por adaptação gradual.
  • A mutação brusca provoca na continuidade da história uma súbita ruptura. É o caso da Revolução Francesa, que, tendo sido a primeira do género, criou um precedente, pesou na história e desde então designa toda e qualquer ruptura análoga. Se outros países seguiram o seu exemplo, foi tanto por contágio como pela força do hábito. A revolução é o recurso que se impõe para derrubar um regime cuja legitimidade se contesta, tornando-se assim, a fórmula banal do reajustamento, e daí a frequência das perturbações e a sucessão de experiências constitucionais.
  • A adaptação gradual, por reformas sucessivas, sem ruptura, é a fórmula que todos os reformistas preconizam, e a escolha entre reforma e revolução continua a dividir socialistas e democratas.
  • A França empenhou-se, quase sem regresso, no modo revolucionário. Mas terá feito essa escolha deliberadamente? E, se assim foi, qual a razão? Na verdade, nada estava definido à partida, bem pelo contrário, e temos mesmo a impressão, no início de 1789, de que a França vai empreender transformações profundas, mas de forma amigável e no respeito da ordem.
  • Deste modo, é o rei quem toma a iniciativa de convocar os estados gerais, o que lhe valerá o reconhecimento popular. Ainda não existem republicanos, o lealismo à monarquia é poderoso e, quando se iniciam os estados gerais, todos ou quase todos esperam que um acordo entre o rei e a nação permita operar as transformações que se impõem.
  • Para explicar a brusca passagem da harmonia ao desacordo e ao conflito, o exame dos antecedentes não é suficiente; com efeito, se as causas mostram bem a necessidade de mudança, nem por isso postulam a queda da monarquia, e vemo-nos forçados a procurar outros elementos de explicação para o rumo tomado pelos acontecimentos.