O movimento liberal é a primeira vaga de movimentos que combatem o que subsiste do antigo regime ou acaba de ser restaurado em 1815. A designação de «liberal» é a que mais convém, pois caracteriza a noção mestra, a pedra angular, da arquitetura intelectual de todos estes movimentos.
O liberalismo é um dos grandes acontecimentos que o século XIX domina inteiramente, e não só durante o período em que todos os movimentos se reclamam explicitamente da filosofia liberal.
Em todos os países existe, entre todas as formas de liberalismo, uma certa afinidade, que se traduz, mesmo nas relações concretas, numa espécie de internacional liberal, de que fazem parte os movimentos e os homens que lutam pelo liberalismo. Esta internacional liberal é diferente das internacionais operárias e socialistas da segunda metade do século, já que não comporta instituições. Se não existe organismo internacional, não deixa de haver trocas e relações. Assim, os soldados, passados à disponibilidade pelo retorno à paz, em 1815, vão combater sob bandeiras liberais contra o antigo regime.
Este internacionalismo liberal é o precursor do internacionalismo socialista, mas também o herdeiro do cosmopolitismo intelectual do século XVIII. A diferença reside em que, no século XVIII, o cosmopolitismo é próprio dos príncipes, dos salões, da aristocracia, ao passo que no século XIX conquista as camadas sociais mais populares, é próprio dos soldados, dos rebeldes.
Para estudar o movimento liberal é conveniente distinguir duas abordagens, uma ideológica, ligada às ideias, e a outra sociológica, que considera as bases sociais, propondo duas interpretações bastante diferentes do mesmo fenómeno, mas, decididamente, mais complementares do que contraditórias.