O dinheiro

Cards (9)

  • Para além da igualdade de princípio e da desigualdade de facto, a sociedade liberal assenta essencialmente no dinheiro e na instrução, que são os dois pilares da ordem liberal. Tanto o dinheiro como a instrução produzem efeitos que, uns, são verdadeiramente libertadores e, outros, tendem a manter ou a reforçar a opressão.
  • O dinheiro é um princípio libertador. O dinheiro, que substitui a posse da terra ou o nascimento como princípio de diferenciação social, é, incontestavelmente, um elemento de emancipação. A terra submete o indivíduo, fixa-o ao solo. A mobilidade do dinheiro permite fugir às limitações do nascimento, da tradição, ao conformismo. Basta ter dinheiro para uma deslocação, para mudar de ofício, de residência, de região. A sociedade liberal, fundada no dinheiro, abre possibilidades de mobilidade: mobilidade dos bens que mudam de mãos, mobilidade das pessoas no espaço, na escala social.
  • Mas a contrapartida é evidente, visto que as possibilidades não estão ao alcance de todos e o dinheiro é também um princípio de opressão. A partida, é sempre necessário ter um mínimo de dinheiro ou muita sorte. Pelo contrário, para aqueles que nada têm, a dominação exclusiva do dinheiro resulta no agravamento da sua situação.
  • A dominação exclusiva do dinheiro resulta no agravamento da sua situação: É talvez no quadro da unidade alemã que melhor se avaliam os efeitos desta revolução: na economia rural do antigo regime todo um sistema de serventias coletivas permitia àqueles que não tinham terras subsistir, visto que tinham a possibilidade de utilizar as terras comunais, mandar pastar o seu gado em terras que não lhes pertenciam, mas que a interdição de pastar o seu gado em terras que não lhes pertencia, mas que a interdição de vedação tornava acessíveis. Havia deste modo coexistência entre ricos e pobres.
  • Ex alemão (2): O deslocamento desta comunidade, a revogação destes condicionamentos, a proclamação da liberdade de cultivar e de vedar as terras, favorecem aqueles que têm bens, que vão poder retirar proventos mais elevados. Entram numa economia de troca, de lucro, aumentam os seus domínios, enriquecem, lançam as bases de uma fortuna, ao passo que os outros, privados do recurso que lhes proporcionava a utilização das terras comunais, privados por isso mesmo da possibilidade de subsistirem, são obrigados a deixar a aldeia e a ir procurar trabalho na cidade.
  • Ex alemão (3): Para eles é a despromoção social e muitas vezes a miséria. Verifica-se por este exemplo como a mesma revolução produziu simultaneamente efeitos opostos, conforme se exercem sobre os ricos ou sobre os pobres, sobre aqueles que têm alguma coisa ou sobre os que nada têm.
  • Ex alemão (4): Toda uma população indigente perdeu subitamente a proteção que lhe era garantida pela rede dos laços pessoais passa a viver numa sociedade anónima na qual as relações são jurídicas, impessoais e materializadas pelo dinheiro. Compra, venda, remuneração, salário: fora disso não há salvação.
  • Assim, uma parte da opinião pública conservará a nostalgia da antiga sociedade, hierarquizada, é certo, mas feita de laços pessoais e na qual os inferiores encontravam largas compensações para a sua dependência.
  • Na verdade, esta nova sociedade não é o produto exclusivo da revolução política; é também consequência de uma mutação da economia e da sociedade, e este novo sistema de relações corresponde a uma sociedade urbanizada e industrial, na qual o negócio e a manufatura se tornam a partir de então as actividades privilegiadas.