Não se trata de definir a democracia propriamente dita como uma essência intemporal, independente dos lugares e dos tempos, mas enquadrada no contexto da primeira metade do século XIX, em que se define por oposição ao antigo regime e, mais ainda, por negação ou superação do liberalismo.
Para definir a democracia no século XIX convém conjugar as duas abordagens utilizadas para o liberalismo a abordagem ideológica e a abordagem sociológica ou, se se preferir, os princípios e as bases sociais, as forças nas quais a ideia democrática se apoia.
A ideia democrática mantém relações complexas com o liberalismo. É assim que retoma toda a herança das liberdades públicas que o liberalismo fora o primeiro a inscrever nos seus textos. Longe de renegar essas aquisições, confirma-as, dando-lhes um alcance ainda mais amplo. Assim, a democracia prolonga a ideia liberal. Eis porque somos hoje muitas vezes tentados a ver na democracia apenas o simples desenvolvimento da ideia liberal, enquanto no século XIX ela aparece sobretudo em ruptura com a ordem e a sociedade do liberalismo.