Persistência da aristocracia tradicional

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  • A revolução não conseguiu em parte alguma extirpar completamente a sociedade aristocrática dos grandes proprietários que residiam nas suas terras ou tinham intendentes a administrá-las.
  • Esta classe social tem a seu favor o nascimento, o brilho dos títulos, o prestígio dos nomes. Conserva, em numerosas regiões, no Oeste da França e no Leste da Alemanha, um ascendente incontestável sobre os camponeses. Controla as mais variadas instituições sociais, detém a maior parte dos comandos militares, açambarca as embaixadas. Senhora da sociedade mundana, possui o monopólio dos clubes. Os duques representam-na na academia. E aliada das igrejas. É, na Grã-Bretanha, o establishment, que se recruta nas public schools.
  • Muitas vezes, sob a aparência da democracia, continua mesmo a ser ela a designar os detentores do poder político. Em Inglaterra - onde esta sociedade aristocrática se mantém, sem dúvida, mais bem preservada - basta passar em revista a lista dos primeiros-ministros no século XIX e princípios do século XX. São, todos eles, oriundos de grandes famílias, cada uma das quais pode gabar-se de remontar aos séculos XVI ou XVII.
  • Assim, esta sociedade aristocrática continua a ser poderosa por detrás de uma fachada democrática. Acomoda-se ao sufrágio universal e encontra o meio para que ele ratifique as suas preferências e as suas próprias escolhas. No caso inverso, quando o poder foi conquistado pelos democratas após uma luta intensa como em França, onde os republicanos chegam ao poder em 1879 e lançam na oposição os descendentes dessa sociedade -, é ainda suficientemente poderosa para os isolar, os bloquear, os cercar por todos os lados.
  • Mais a leste, na Alemanha, por exemplo, o domínio desta sociedade é ainda mais incontestável. O próprio caso de Bismarck, que pertence justamente a estas grandes famílias, é significativo.
  • Assim, nas vésperas do primeiro conflito mundial, a Europa, que vai dilacerar-se, é ainda largamente aristocrática. A nobreza conserva nela um lugar que não é proporcional à sua importância numérica. É preciso não perder de vista a presença activa e o peso desta sociedade quando se evocam as forças políticas do século XIX. Se apenas se tomasse em consideração a denominação dos regimes, as designações dos partidos políticos e os resultados das consultas eleitorais, escapar-nos-ia toda uma dimensão da realidade com grande peso no equilíbrio das forças e na aplicação dos princípios democráticos.