A democracia não é um começo: não foi ela que derrubou o antigo regime. São raros os contactos diretos entre o antigo regime moribundo e a democracia nascente: entre um e outra entrepõe-se normalmente a era liberal, a qual lança um traço de união, opera uma transição entre as duas sociedades.
Em geral, a democracia não teve de se opor diretamente ao antigo regime ou de combatê-lo frontalmente (salvo na Europa oriental). É o liberalismo que é o seu adversário habitual, mas dele ela também recebe uma herança, com as instituições estabelecidas pela sociedade liberal, como os regimes constitucionais, com as suas instituições representativas, as câmaras electivas e as liberdades públicas que garantem a iniciativa individual, instituições às quais a democracia não se acomoda simplesmente.
Denunciando o seu carácter restritivo, reivindica a universalidade. A sua ação vai, portanto, exercer-se a partir dessas instituições (herdades do regime liberal) representativas, electivas, no sentido do seu alargamento. Isto implica uma dupla progressão, que consiste, por um lado, para o procedimento eleitoral, em ampliar o corpo de eleitores, tornando-o universal e dando-lhe uma representação mais autêntica, e, por outro, em dilatar as atribuições das instituições representativas, a sua competência e o seu controle.