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  • Ex: A forma como o fisco está organizado no nosso país é socialmente justa?
  • Esta pergunta não tem, evidentemente, como objetivo analisar o funcionamento do sistema fiscal ou o impacto da maneira como ele é concebido ou levado a cabo, mas sim julgá-lo no plano moral, o que constitui um procedimento completamente diferente, que não diz respeito às ciências sociais. A confusão entre a análise e o juízo de valor é muito usual e nem sempre é fácil de detectar.
  • De uma maneira geral, podemos dizer que uma pergunta é moralizadora quando a resposta que lhe damos só tem sentido em relação ao sistema de valores de quem a formula. Assim, a resposta será radicalmente diferente consoante a pessoa que responde.
  • Os laços entre a investigação social e o julgamento moral são, evidentemente, mais estreitos e mais complexos do que este simples exemplo deixa supor, mas não é este o lugar para os aprofundar.
  • O facto de um projecto responder a uma preocupação de carácter ético e político não é, em si, um problema. Longe de dever ser evitada, esta preocupação de pertinência prática com uma intenção ética deve ser encorajada, sob pena de produzir investigações desprovidas de sentido e que constituiriam tão-somente «exercícios de estilo» mais ou menos brilhantes. Tal não impede a investigação de ser conduzida com rigor, pelo menos desde que o investigador saiba clarificar as opções subjacentes e controlar as implicações possíveis.
  • Resumindo, se o investigador deve esforçar-se por pensar nos laços entre o conhecimento, o ético e o político, também deve evitar as confusões entre os registos e, durante o trabalho de investigação, abordar o real em termos de análise, e não de julgamento moral. Trata-se, aliás, de uma condição da sua credibilidade e, por conseguinte, em última análise, do impacto ético e político dos seus trabalhos.