Cards (7)

  • Assim, a democratização estendeu-se a todos os aspetos da sociedade e não somente à superstrutura política. Transformou não só a legislação, mas também as relações sociais, os costumes e até os gostos.
  • Esta evolução atingiu mais cedo e mais profudamente certos países, como a Grã-Bretanha, os Estados Unidos, a França. Mas a democracia não é apanágio de um único país e os exemplos provam, aliás, que o seu contágio se exerceu bem para lá da Europa ocidental. A democracia, tanto política como socialmente, extravasou rapidamente do seu domínio original, do sector onde tinha nascido e onde se constituíra, enquanto regime e como forma de sociedade.
  • Entre 1848 e 1918, a curva da democracia foi sempre ascendente. A vitória dos aliados em 1918 alarga ainda o seu domínio, pois uma das suas primeiras consequências é a substituição dos regimes autocráticos ou tradicionalistas na parte da Europa até então mais refratária das ideias democráticas por regimes democráticos. A Segunda Guerra Mundial terá o mesmo efeito. Por isso, é conveniente não nos anteciparmos, falando cedo de mais de declínio da democracia. Em todo o caso, não é antes de 1918 que podem detectar-se sintomas precursores de uma crise da democracia.
  • Mas a democracia vai conhecer a mesma aventura que o liberalismo. Este começara por ser uma ideia subversiva antes de se tornar um princípio de conservação política e social, lutara, numa primeira fase, contra os vestígios do antigo regime e as ofensivas para a reposição da tradição e, numa segunda fase, contra as ideias democráticas.
  • Repete-se o mesmo ciclo com a democracia, que é também arrastada para uma luta em duas frentes. Primeiro, luta contra o que sobreviveu do antigo regime nos países onde o liberalismo não conseguiu penetrar, mas sobretudo contra o liberalismo, ao qual censura o oligarquismo e o facto de ter reservado o exercício das liberdades a uma elite escolhida. Milita pela extensão a todos das garantias individuais, dos direitos políticos, da instrução, da informação.
  • Repete-se o mesmo ciclo com a democracia, que é também arrastada para uma luta em duas frentes (2): Entretanto, vê-se obrigada a combater numa segunda frente, ao ser em breve ultrapassada pela inspiração socialista, que a acusa, por sua vez, de não ser suficientemente democrática, que lhe objecta que os princípios são uma coisa e a realidade é outra, que não basta inscrever na lei o sufrágio universal e o direito universal à instrução para que a igualdade seja ipso facto assegurada.
  • O socialismo propugna uma igualdade efectiva e a democracia vê-se assim entre dois fogos, o do liberalismo já em declínio e o de um socialismo que não tardará a entrar em ascensão.