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  • Em primeiro lugar, a estrutura dos governos. O número dos departamentos é multiplicado por três, quatro ou dez. Desde o período entre as duas guerras é excepcional, em França, que um governo compreenda menos de três dezenas de ministros ou de secretários de Estado, e esta inflação deve-se unicamente às ambições individuais. Aliás, o crescimento em França é modesto quando comparado com o de outros países.
  • O crescimento do número dos funcionários é muito mais notável. Nos Estados Unidos, os agentes do governo, que não eram mais de uma centena no princípio do século XIX, ultrapassaram largamente o milhão. E por toda a parte se regista tal aumento.
  • Quanto ao volume do orçamento público, o seu aumento deixa para trás os coeficientes multiplicadores do pessoal. A proporção que ocupa no rendimento nacional não tem termo de comparação com o que era um século antes. É que a própria concepção que preside ao estabelecimento e à utilização do orçamento também mudou completamente. Antes tratava-se unicamente de assegurar o funcionamento dos serviços públicos.
  • Agora o orçamento é chamado a corrigir as desigualdades sociais, a regular as trocas, a estimular as atividades. Torna-se o instrumento de uma política social e económica. Percebe-se com este exemplo que o crescimento do papel do Estado não é somente de ordem quantitativa: a extensão das suas atribuições traduz uma alteração de natureza na noção da sua responsabilidade, e a concepção que se revela e tende a prevalecer situa-se nos antípodas da filosofia liberal.
  • Neste aspecto, foi uma espécie de revolução que se operou, mas de uma maneira tão progressiva que passou muitas vezes despercebida aos contemporâneos.
  • Não deixa de ter interesse sublinhar que, na maior parte dos países que afectou - e foi quase a totalidade das sociedades -, esta mudança não é a consequência de uma mudança de regime, não é fruto de uma revolução política nem uma promessa assumida por uma oposição subitamente levada ao poder por um golpe de força. Não resulta sequer da vontade de domínio dos homens ou das formações instaladas no poder, ou da propensão natural das instituições para alargarem o círculo da sua ação.
  • Largamente independente das preferências ideológicas, como da natureza dos regimes políticos, o fenómeno é geral e parece decorrer sobretudo de factores objectivos. No fim de contas, os defensores de uma intervenção autoritária do Estado contribuíram menos para que ocorresse do que as circunstâncias e a pressão de certas necessidades. São, portanto, estas causas objetivas, técnicas ou sociológicas que importa examinar.