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  • O economista Gunnar Myrdal foi, sem dúvida, desde 1930, ano em que publicou a obra que veio a celebrizar-se sob o título adquirido na versão inglesa: O Elemento Político no Desenvolvimento da Teoria Económical —, um dos seus mais lúcidos precursores da ideia que não se encontram, nos domínios das ciências humanas, produtos exclusivamente científicos, mas tão-só produtos científico-ideológicos, nuns casos predominantemente científicos, noutros casos predominantemente ideológicos.
  • Para Myrdal, aquele «elemento político»crenças, preconceitos, preferências, interesses, numa palavra: valores —, permeando o trabalho científico em todas as suas fases, influencia a elaboração e utilização dos conceitos, modelos e teorias, afeta a seleção dos dados revelantes, o registo das observações, a forma de apresentação dos resultados das pesquisas, as inferências teóricas e práticas que se extraem das investigações efetuadas.
  • Expressões como, por exemplo, «equilíbrio», «função», «estável», «normal», «ajustamento», «desajustamento», «bem-estar geral» ou mesmo «rendimento nacional» veiculam frequentemente, no modo sob o qual são elaboradas, enunciadas e manipuladas, esse «elemento político», a cada passo presente e actuante, segundo Myrdal, na construção da teoria, na condução da análise, na formulação das interpretações científicas.
  • «Como será possível conhecer cientificamente os factos e relações sociais? Como se poderá evitar que os vieses decorrentes da própria personalidade do cientista, do seu tempo e do seu ambiente local e de classe influenciem a direção da sua busca dos factos e as suas inferências a partir destes?» Esta pergunta inscreveu-a Myrdal. E após confessar aí não ter adquirido «quaisquer conclusões definitivas» a respeito de tal problema, Myrdal observou que, seja como for, «certo é que as valorações são necessárias em todo o trabalho científico, do princípio ao fim».