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  • Esta asserção de Gunnar Myrdal («certo é que as valorações são necessárias em todo o trabalho científico, do princípio ao fim») aproxima-o, mas só neste ponto, das teses desenvolvidas, no princípio do século (1904), por Max Weber, acerca do problema da objetividade do conhecimento nas ciências sociais.
  • Procurando a «linha quase imperceptível que separa a ciência da crença», Max Weber esforçou-se por demonstrar que a investigação científica nos domínios das «ciências da cultura» (ciências do homem) só é possível desde que constantemente reportada a valores.
  • A seleção dos factos, a elaboração dos conceitos, a fixação do objecto, a própria pesquisa das determinações causais dos fenómenos estudados dependem das orientações do investigador no que concerne às suas curiosidades, aos seus interesses, aos seus critérios a respeito do que é importante e do que o não é, numa palavra: da significação de que, a seus olhos, certos aspectos ou elementos da realidade se revestem e lhes conferem valor.
  • Escreve Weber: «sem as ideias de valor do sábio, não poderia haver, nem um princípio de seleção da matéria [a investigar], nem qualquer conhecimento judicioso do real singular, tal como sem a crença do sábio na significação de um determinado conteúdo cultural [social], o trabalho cuja finalidade é o conhecimento da realidade singular não teria pura e simplesmente nenhum sentido.…
  • …Assim, a orientação da sua convição pessoal e a refração dos valores no espelho do seu espírito imprimem uma direção ao seu trabalho. Os valores aos quais o génio científico reporta os objectos da investigação poderão ser decisivos para o que, nos fenómenos, não somente se ofereça como "digno de atenção", mas também como significativo ou insignificante, como "importante" e "secundário".»
  • Argumentava Weber com a «infinita diversidade» dos fenómenos e das sucessões de fenómenos na realidade social e com o consequente imperativo de, por cada vez, «só um fragmento limitado da realidade» poder constituir «objeto da apreensão científica» para concluir que toda a «tentativa de um conhecimento da realidade desprovido de pressuposições a nada conduziria senão a um caos de "juízos de existência" , incidindo sobre inumeráveis perceções particulares.
  • Só introduz ordem nesse caos o facto de, em cada caso, apenas uma porção da realidade singular adquirir interesse e significação aos nossos olhos, por somente essa porção estar em relação com as ideias de valor culturais com que abordamos a realidade concreta». As ideias de valor— digamos: as crenças, as convicções, os interesses morais e políticos — do cientista operariam, por conseguinte, como princípios de seleção dos factos e de configuração dos objetos de pesquisa.