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  • Com efeito, a seguir às guerras do Império, a Europa entra numa dessas fases de depressão económica que se reproduzem periodicamente e que durará até 1851, ou seja, mais de um terço de século. A procura diminui no momento em que a capacidade de produção aumenta. As empresas disputam entre si um mercado em declínio, procuram comprimir o preço de custo e fazem tudo para reduzir ainda mais a fatia da remuneração salarial. A depressão reflete-se, assim, nos rendimentos dos trabalhadores.
  • Em consequência da revolução demográfica que se iniciou no século XVIII, a Europa conhece, de resto, um rápido crescimento demográfico. A situação faz pensar naquela que hoje atravessam muitos países em vias de desenvolvimento. Os dados não são idênticos, mas as tendências são análogas e ajudam-nos a compreender as causas e certos aspectos da evolução da Europa no princípio da revolução industrial.
  • Ao multiplicar o número dos trabalhadores disponíveis numa altura em que o maquinismo reduz as necessidades de mão-de-obra, o crescimento demográfico aumenta o número de desempregados virtuais, que constituem aquilo a que Marx chama «o exército de reserva do proletariado». Com a ameaça do desemprego tecnológico — ou técnico -, tudo se conjuga contra os trabalhadores.
  • Assim, fatores especificamente económicos e demográficos, independentes do regime jurídico e mesmo das intenções das partes envolvidas, contribuem para prejudicar a condição operária no século XIX.
  • Esta evocação da condição operária é útil não só para compreender as primícias do movimento operário, mas também a sua orientação atual.
  • Continuando vivo na memória colectiva do sindicalismo operário, este passado ajuda a compreender uma certa psicologia operária feita de amor-próprio ferido, de dignidade humilhada, de desconfiança e de ressentimento. Semelhantes recordações explicam que o movimento operário acredite apenas na luta para melhorar a sua situação, não confie senão no regresso ao combate e se volte naturalmente para as filosofias da luta de classes, que lhe propõem a esperança de uma libertação.