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  • A passagem da classe ao movimento implica uma tomada de consciência
    desta condição operária e um esforço de organização. O nascimento do movimento operário esbarra em obstáculos que vão atrasá-lo ou embaraçá-lo, em primeiro lugar obstáculos jurídicos e políticos. A este respeito é preciso recordar a ordem social saída da Revolução Francesa, que dificulta a organização de um movimento operário.
  • A este respeito é preciso recordar a ordem social saída da Revolução Francesa, que dificulta a organização de um movimento operário…A doutrina que prevalece, que é ensinada nas escolas de direito, que inspira parlamentos e governos, é o liberalismo, que tem por princípio deixar atuar livremente a iniciativa individual. O Estado, que deve manter-se neutro, apenas pode intervir para restabelecer o equilíbrio entre os atores económicos e deixar funcionar a economia de mercado, contra os indivíduos ou os grupos que lhe falseiem a livre atuação.
  • Os trabalhadores não podem formar associações nem coligarem-se, delito passível de penas de prisão ou de multas. 
  • A greve, considerada como um impedimento à liberdade do trabalho, concerne também aos tribunais. Em vários países, a lei prevê que, em caso de conflito, ao empregador basta a sua palavra enquanto o empregado deve fazer prova das suas afirmações. A instituição da caderneta operária, a vigilância no interior das empresas, nas quais um corpo de contramestres faz respeitar os regulamentos, tudo isto constitui um conjunto de disposições legislativas e regulamentares que atrasa a constituição do movimento operário.
  • Mesmo com outra legislação, as reações de defesa teriam sido lentas por uma razão sociológica que tem a ver com o facto de a classe operária ser uma classe nova, sem tradições nem experiência de luta, formada por indivíduos desenraizados do seu meio natural, lançados num mundo desconhecido e hostil, habituados a suportar com resignação as fomes, as intempéries, os golpes do destino. Obrigados a trabalhar desde os 4 ou 5 anos, são analfabetos, não têm quadros nem elite e desconhecem as horas de lazer que lhes teria possibilitado a conversação, a troca de ideias.
  • Não é em tais condições (analfabetos, classe nova, sem elites, etc.) que pode pôr-se de pé uma greve ou uma luta reivindicativa.
  • Por isso, não é destes elementos que vai nascer o movimento operário, mas dos artífices e dos oficiais, uma espécie de aristocracia do trabalho que vai constituir a vanguarda e lançar as bases do movimento operário. São eles os precursores, os promotores, do movimento operário a que as massas aderirão pouco a pouco, embora tardiamente.