As fontes do socialismo

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  • Deixando de lado o primeiro período da sua história, no qual é mais agrário do que industrial, o socialismo moderno, tal como o conhecemos, pretende ser a resposta aos problemas resultantes da revolução industrial.
  • Ao princípio, a reflexão dos fundadores das escolas socialistas foi suscitada por duas consequências essenciais da revolução industrial. Principalmente pela miséria dos trabalhadores e pela dureza da condição operária, de que se fazem eco os testemunhos, a literatura, o romance popular ou os inquéritos oficiais.
  • Perante o espectáculo impressionante desta miséria em larga escala, do pauperismo, alguns interrogam-se sobre se um regime económico que provoca semelhantes consequências é aceitável e chegam a pôr em causa a iniciativa individual, a concorrência, a propriedade privada, postulados em que se fundava a economia liberal do século XIX.
  • Os fundadores da escola socialista são igualmente alertados pela frequência das crises, que constituem, a bem dizer, um fenómeno mais económico do que social. Com efeito, o século XIX conheceu crises periódicas que, todos os nove ou dez anos, vinham interromper bruscamente o crescimento da economia, acarretando o desemprego, o encerramento de empresas, um considerável desperdício de riquezas. Outros espíritos, ou talvez os mesmos, interrogam-se sobre a rendibilidade e a eficácia do sistema.
  • Há, assim, no princípio do socialismo um duplo protesto, de revolta moral contra as consequências sociais e de indignação racional contra o absurdo das crises. Os pensadores socialistas tentam, portanto, responder a esta dupla inquietação. Os dois procedimentos convergem na mesma crítica do postulado do regime liberal, segundo o qual é necessário dar uma liberdade total à iniciativa individual.
  • O primeiro significado do termo socialismo é uma reação contra o individualismo. Mais do que deixar ao indivíduo toda a autoridade, o socialismo subordina-o ao interesse e às necessidades do grupo social. A tónica desloca-se do indivíduo para a sociedade
  • O socialismo faz, portanto, a crítica do liberalismo individualista e, mais precisamente, pois essa parece-lhe ser a raiz do regime, da propriedade privada dos meios de produção, das minas, das ferramentas, das máquinas, da terra, na medida em que a apropriação individual permite ao possuidor exercer um certo domínio sobre os outros, nomeadamente sobre os trabalhadores.
  • Do seu ponto de partida, crítico, o socialismo passa à construção de um sistema positivo e propõe uma doutrina de organização social, não política. De facto, antes de 1848 e mesmo depois, os socialistas concordam em considerar que a solução das dificuldades contemporâneas não consiste em substituir a monarquia pela república, nem mesmo em substituir o sufrágio censitário pelo sufrágio universal, pois estes são considerados problemas menores, que apenas desviam a atenção do essencial, isto é, das questões sociais e da organização da sociedade.
  • As escolas socialistas pretendem situar-se num plano diferente do dos partidos políticos. Por isso, os socialistas mantêm-se fora das lutas políticas.
  • Desde então a situação modificou-se consideravelmente: toda a história da evolução do socialismo, que se tornará progressivamente uma força política, quase poderá reduzir-se ao itinerário de uma escola de organização social que se transforma em partido político para a conquista — ou o exercício — do poder.