O socialismo como força política II

Cards (9)

  • Nas vésperas de 1914 concluiu-se a evolução que fez passar o socialismo do plano das ideias ao das forças organizadas.
  • A difusão do socialismo de inspiração marxista alterou profundamente o estilo da vida política, introduzindo-lhe preocupações e métodos novos. Em parte alguma associado ao exercício do poder, o socialismo é, em todo o lado, uma força de oposição e é precisamente por estar inserido na oposição que se coloca à esquerda. Ao princípio a sua recusa em dar importância aos problemas políticos, a sua preocupação em tratar com a mesma indiferença a esquerda e a direita, não prenunciavam o ponto do leque político em que haveria de inserir-se no dia em que tivesse eleitores e eleitos.
  • Uma vez que combate a ordem estabelecida, não só os vestígios do antigo regime, o conservadorismo político ou social, como também o liberalismo, cujos defeitos estavam na origem da sua revolta, o socialismo constitui uma força de oposição política, a que se junta uma oposição a todos os valores reconhecidos.
  • Nunca será de mais insistir no carácter global desta crítica, que rejeita em bloco as instituições políticas, o regime económico, o sistema das relações sociais, a moral burguesa, a filosofia e a religião de que se reclama a sociedade. O socialismo não é só uma solução económica, é também uma filosofia. Com o triunfo do marxismo, o materialismo predomina. O socialismo toma posição contra a religião, e não só contra as igrejas, como certos liberais ou certos democratas, mas contra o próprio facto religioso.
  • A par do seu carácter internacional, que é um dos seus elementos constitutivos, as escolas socialistas tomaram posição contra o nacionalismo e o Estado-nação. No plano das ideias, são unânimes em considerar que o sentimento nacional é apenas um álibi, um logro produzido pela burguesia possidente para desviar os proletários dos seus interesses de classe. A solidariedade que liga os trabalhadores para além das fronteiras deve ser mais forte do que a solidariedade, no interior das mesmas, entre exploradores e explorados.
  • O socialismo organiza-se em internacionais, que na época têm uma coesão que será mais tarde enfraquecida.
  • A I Internacional, a associação internacional dos trabalhadores fundada em Setembro de 1864, em Londres, quase não resistiu à prova da guerra franco-alemã. Logo após a Comuna, a sede é transferida para Nova Iorque, mas a associação está já moribunda. Vegetará ainda alguns anos para desaparecer silenciosamente cerca de 1876.
  • A II Internacional, constituída em 1889, ainda existe, mas as suas estruturas já não têm a mesma consistência. Ao contrário da anterior, é homogénea. É uma internacional de partidos que só inclui organizações políticas e da qual os sindicatos, como as trade unions, que eram membros da anterior, estão ausentes.
  • Os partidos políticos que aderem à II Internacional reclamam-se todos do socialismo marxista. É uma internacional social-democrata, na qual o socialismo sonha alargar a democracia política em democracia social. Depois que se convenceu de que, no sistema das forças, os seus aliados estavam sobretudo à esquerda e de que tinha deveres para com a democracia política, o socialismo passou do estádio de neutralidade para o de apoio das instituições democráticas. É pelo livre jogo das eleições e da representação parlamentar que estes partidos esperam chegar ao poder e realizar o seu programa.