Cards (7)

  • Primeira consequência — e a mais imediatamente perceptível — do afluxo de novos habitantes: as cidades depressa se sentiram apertadas nos seus limites históricos, encerradas em muralhas fortificadas herdadas da Idade Média ou do antigo regime. Depressa trataram de os dilatar, arrasando as muralhas, atulhando os fossos, expandindo-se à sua volta, absorvendo, uma após outra, as aldeias das cercanias. Assim procedem todas as cidades nos meados do século.
  • O terreno não tarda a faltar: a raridade dos espaços disponíveis provoca a subida dos preços.
  • O primeiro crescimento urbano é contemporâneo da era liberal: é portanto a economia de mercado que regula as transações e determina o valor corrente a que se negoceiam os terrenos. A procura do lucro é a única lei, excluindo qualquer consideração social, qualquer preocupação funcional. A carestia dos solos dá lugar a uma das mais proveitosas especulações.
  • Construção de prédios para arrendamento, investimentos imobiliários, loteamento de terrenos até então desabitados: às diversas modalidades de especulação correspondem outras tantas soluções para alojar de qualquer maneira os novos citadinos. Nestas condições e na falta de regulamentações, as cidades crescem anarquicamente.
  • A crescente carestia dos terrenos situados no centro das cidades origina a especialização dos bairros e a sua diferenciação social. O centro das cidades torna-se o local privilegiado dos negócios e das administrações. Os trabalhadores, que não têm meios para pagar as rendas elevadas dos melhores bairros, são progressivamente empurrados para a periferia, na direção dos subúrbios.
  • As cidades do antigo regime misturavam as classes e as atividades. A partir de agora a diferença e a desigualdade das categorias sociais inscrevem-se também na topografia das cidades: aos bairros finos, reservados à burguesia, opõem-se os bairros populares. O que sucede no momento em que a concentração económica e o crescimento da dimensão das empresas separam os patrões dos seus assalariados. Assim, em todos os sectores ao mesmo tempo, na habitação como no trabalho, aprofunda-se o divórcio entre os ricos e os pobres, entre os empregadores e os empregados.
  • As cidades modernas justapõem duas humanidades que caminham lado a lado sem se encontrarem, que vivem em universos totalmente separados. Para uns, os imponentes imóveis nas avenidas bem desenhadas e arborizadas; para outros, a aglomeração em pardieiros superpovoados, antigos palácios que se degradam ou prédios de apartamentos para alugar, construídos à pressa com o único fito de obter o lucro das rendas. O antagonismo entre locatários e senhorios, usurários, não é o aspecto menos importante dos conflitos sociais.