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  • A dimensão das catástrofes naturais é proporcional à importância das concentrações urbanas e a aglomeração destas populações adiciona-lhes flagelos sociais.
  • O fogo é uma ameaça permanente, e estas aglomerações que cresceram ao acaso constituem uma presa fácil para os incêndios. O fenómeno não é específico do período contemporâneo: as grandes cidades de outrora foram periodicamente devastadas por grandes incêndios. As cidades protegem-se pouco a pouco contra a propagação do fogo: construções de pedra ou metal, que reduzem os riscos de combustão, alargamento das ruas, criação de serviços permanentes de bombeiros profissionais.
  • As cidades, particularmente os portos, são também locais de eleição para as grandes epidemias: ainda no século XIX (a cólera). Contudo, pouco a pouco, estas recuam, contidas, juguladas, e mais tarde evitadas pelo progresso da ciência, da higiene, da vacinação sistemática. As cidades atingirão mesmo um grau de salubridade muitas vezes superior ao dos campos: a longevidade aumenta, invertendo-se a relação que, anteriormente, beneficiava a população rural.
  • Pelo contrário, os flagelos sociais acompanham o crescimento das cidades: na primeira fase, no século XIX, o afluxo de imigrantes vindos dos campos e para quem nada está previsto, a dramática insuficiência de habitação, o amontoamento em caves ou saguões, o desemprego, crónico ou intermitente, constituem a condição das classes trabalhadoras, que são também, aos olhos dos notáveis, classes perigosas. De facto, a miséria, o pauperismo, engendram, entre outras consequências inelutáveis, a criminalidade, a delinquência, a prostituição
  • As cidades em expansão são também cidades doentes. Depois, pouco a pouco, as administrações restabelecem-se e corrigem a situação: os flagelos sociais recuam paulatinamente. Mas, a julgar pela sociedade americana contemporânea, perguntamo-nos se, num terceiro tempo, os defeitos não tenderão a triunfar e a reconstituir os desequilíbrios iniciais. Não se trata do único campo onde se julga discernir um movimento de pêndulo que faz alternar progresso e retrocesso: observámo-lo a propósito dos bens elementares: água ou ar.