Caracteres do movimento das nacionalidades III

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  • O fenómeno nacional aparece, portanto, como universal, e esta não é a menor singularidade deste movimento, que, sendo uma afirmação da particularidade, é talvez o fenómeno mais universal da história. Está presente na maior parte das guerras do século XIX. É um traço que diferencia as relações internacionais antes e depois de 1789. Na Europa do antigo regime, as ambições dos soberanos eram o ponto de partida dos conflitos. No século XIX, o sentimento dinástico deu lugar ao sentimento nacional, paralelamente à transferência da soberania da pessoa do monarca para a colectividade nacional.
  • As guerras da unificação italiana, da unificação alemã, a questão do Oriente, tudo procede da reivindicação nacional.
    O fenómeno nacional é, no século XIX, com o revolucionário, fator decisivo de perturbação.
  • O fenómeno nacional, certamente porque se estende por um período mais longo do que o de cada uma das três outras correntes e, provavelmente, também porque diz respeito a países muito diferentes uns dos outros, não é marcado por uma dada ideologia, não tem qualquer ligação substancial com nenhuma das três ideologias, não tem uma cor política uniforme. Contudo, a ideia nacional não se basta geralmente a si própria: propõe à inteligência política uma espécie de quadro que precisa de ser preenchido.
  • A ideia nacional, porque tem necessidade de se associar a outras ideias políticas, de se amalgamar com filosofias, pode entrar em diversas combinações que não são antecipadamente determinadas. A ideia nacional tanto pode coabitar com uma filosofia de esquerda como com uma ideologia de direita. De resto, entre 1815 e 1914, o nacionalismo estabeleceu alianças com a ideia liberal, com a corrente democrática e menos com o socialismo, na medida em que este se define como internacionalista.
  • Esta possibilidade de praticar alianças sobresselentes, explicam as variações, das quais a história oferece mais de um exemplo. Explicam nomeadamente a existência de dois nacionalismos, um de direita e outro de esquerda, um sobretudo aristocrático e outro popular: o primeiro tem inclinações conservadoras e tradicionalistas, escolhe os seus dirigentes e os seus quadros entre os notáveis tradicionais; o segundo investe na democratização da sociedade e recruta nas camadas populares.