A evolução do movimento entre 1815 e 1914 IV

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  • Nos últimos anos do período, a ideia nacional conhece um último avatar, mudando de conteúdo em certos países e invertendo as suas alianças. Desde o princípio do século XIX que o nacionalismo se situava preferencialmente à esquerda. A tendência dominante tinha sido, sucessivamente, liberal e democrática e, mesmo com Bismarck, não repudiava completamente a democracia.
  • Noutros países o nacionalismo torna-se aliado dos conservadores. Esta evolução é produto de dois tipos de causas, sobressaem, em primeiro lugar, os acontecimentos internacionais. É o caso da França, onde, após a derrota de 1871 e amputação territorial, ao nacionalismo, expansivo e generoso, universalista e fraternal, sucede um nacionalismo de reclusão e de recolhimento, um nacionalismo ferido, amargo, martirizado, angustiado pelo sentimento da decadência e que desconfia do estrangeiro. Esta mutação prepara o deslizar do nacionalismo europeu para teorias autoritárias e para fascismo após 1918.
  • O socialismo, indiretamente, contribuiu muito para esta evolução do nacionalismo: as doutrinas e os movimentos definem-se tanto por oposição como positivamente. Assim, a seguir ao Congresso de Viena, se a ideia nacional, a causa dos patriotas, se solidariza com a ideia liberal, é em parte porque o Congresso de Viena se opôs a ambas e constituiu o inimigo comum. Ora, no fim do século XIX, com o nascimento de uma consciência de classe operária e a crescente difusão das ideias socialistas, o nacionalismo viu-se atirado mais para a direita.
  • O significado internacionalista do socialismo não é um acidente, mas deriva, bem pelo contrário, da sua doutrina e das suas estruturas. O socialismo define-se como internacional, contesta toda a legitimidade do fenómeno nacionalista. Como a nação, o nacionalismo apenas representa para ele os álibis do capitalismo, da dominação burguesa, de um estado de classe, o socialismo pretende lutar contra o nacionalismo, o militarismo, pois «a internacional será o género humano».
  • Em presença deste novo «parceiro», o sentimento nacional, que até então se dava bem com a democracia, muda de frente e desliza para a direita. Para combater o socialismo, desliga-se da democracia, combate todas as forças que lhe parecem extranacionais ou supranacionais, desenvolvendo a xenofobia e o anti-semitismo. Deste modo, o nacionalismo, sempre receptivo a todas as ideologias, volta-se para as doutrinas reacionárias, contra-revolucionárias. Aparece como aliado do conservadorismo político e social.
  • A evolução não é tão acentuada em toda a parte. Não se faz sentir nas nacionalidades que lutam ainda pela sua independência. Mas nos países onde o sentimento nacional há muito ganhou a partida vê-se o nacionalismo ligar-se (ex: Inglaterra, com o Partido Conservador).
  • Sendo a direita nacionalista e a esquerda internacionalista, quando rebenta a guerra de 1914, o comportamento das forças internacionalistas nessa prova de força permanece uma das incógnitas da conjuntura.