Cards (8)

  • No momento do restabelecimento da paz, quando os plenipotenciários se reúnem em Viena para darem um novo rosto à Europa, as relações entre ela e os outros continentes traduzem no conjunto um movimento de recuo da Europa.
  • Em 1815 a França perdeu quase todas as suas possessões coloniais: em 1803 cedeu aos Estados Unidos a Luisiana, que acabava de lhe ser entregue pela Espanha, e a Grã-Bretanha arrebatou-lhe graças à guerra e ao bloqueio quase todas as suas possessões coloniais. A França recupera alguns territórios, mas não lhe restam mais do que alguns vestígios do império colonial que tinha edificado entre os séculos XVI e XVIII.
  • A ocupação dos Países Baixos e da Espanha pelos exércitos franceses salda-se para os dois países pela perda de uma parte do seu império. Solidários à força com o grande império, viram a Grã-Bretanha atacar as suas dependências coloniais. Seguindo o exemplo das colónias inglesas que se emancipam da tutela, as colónias espanholas e portuguesas conquistam a liberdade e libertam-se todas entre 1810 e 1825*. Por conseguinte, a Europa — a Europa continental, a Europa terrestre — conserva apenas restos de impérios.
  • Para a Grã-Bretanha, o saldo é inverso. Se bem que tenha perdido, em 1783, treze das suas colónias na América do Norte, ampliou e consolidou as suas posições. Expulsou os seus rivais e apropriou-se dos seus despojos. Ela é, portanto, em 1815, a única grande potência colonial. Mas este império só comporta posições marginais, na orla dos continentes, possessões litorais ou insulares, e nenhum grande território continental, com excepção da Índia; mas em 1815 ainda falta muito para que toda a Índia esteja submetida ao domínio britânico.
  • Um segundo factor contraria a expansão colonial e parece mesmo adiar indefinidamente o momento em que ela poderá recomeçar: o estado de espírito da opinião pública europeia, que crê que o tempo da conquista colonial pertence ao passado. Os reveses da Inglaterra nos Estados Unidos, da Espanha e de Portugal mais recentemente, dão crédito à ideia de que as colónias mais cedo ou mais tarde enveredarão pelo caminho da secessão.
  • Segundo factor (2): Políticos e economistas aduzem considerações ideológicas, ou desenvolvem argumentos de rendibilidade, demonstrando que a colónia apresenta mais inconvenientes do que vantagens, que a conquista, a ocupação, a administração, são onerosas e que não é indispensável, para manter relações comerciais com os outros continentes, ocupá-los militar e politicamente.
  • Em França, mais tradicionalmente voltada para a Europa — e não são as guerras napoleónicas que invertem esta tendência —, a opinião pública não se interessa pelo ultramar. Depois de terem lutado perto de um quarto de século contra a Europa, depois de a terem percorrido de uma extremidade à outra, os Franceses não se sentem muito tentados pela perspectiva de conquistarem territórios de que nada sabem.
  • Entre as duas vocações, que sempre solicitaram contraditoriamente as energias francesas, a vocação continentalhegemonia ou integração europeia — e a vocação marítima — a expansão ultramarina —, a primeira sobrepõe-se à segunda.