Cards (7)

  • Se as considerações económicas — importantes no tempo do mercantilismo — não foram determinantes, que motivos estarão na origem das vocações coloniais individuais e no princípio da expansão das nações europeias?
  • Os mais decisivos são talvez de ordem psicológica e política: considerações de amor-próprio, a convicção de que se trata do futuro de um país, de que a posse de um império é uma dimensão de grandeza, de que sem colónias um país já não tem peso na balança das forças. Para um país vencido, como a França em 1871, é a ocasião de se poder vingar, de provar que a derrota não é irrecuperável, que, batida na Europa, a França é capaz de conduzir a bom termo um grande empreendimento. A imagética, os mapas, a bandeira desfraldada sobre grandes espaços, simbolizam estes sentimentos.
  • Estas considerações de amor-próprio encontram uma justificação tangível, colhem argumentos menos teóricos nos raciocínios políticos e estratégicos. Em muitos casos, os países só ocuparam uma posição para impedirem outros de o fazerem, menos para se estabelecerem eles mesmos do que para impedirem o rival hereditário de assegurar a sua posse.
  • Há, além disso, um encadeamento das «tomadas de posse» para assegurar a segurança dos territórios já ocupados. Os Franceses estão na Argélia: entram na Tunísia e depois em Marrocos para completarem o conjunto. Voltamos a encontrar a transposição para fora da Europa da noção de fronteiras naturais, pois os impérios coloniais devem também ter as suas fronteiras naturais. Assim, por avanços sucessivos, a colonização alastra e, por uma lógica dos impulsos espontâneos, ligam-se as posições umas às outras e, se são descontínuas, preenchem-se os intervalos.
  • Por vezes, provoca colisões, pois os itinerários teóricos que devem ligar posições descontínuas entrecruzam-se, como sucede em África com os grandes projectos franceses e britânicos. O projecto britânico esbarra no dos Franceses, que sonham, por sua vez, poderem atravessar todo o continente africano de oeste a leste, do Atlântico ao mar Vermelho: causa o incidente que por pouco não degenerou numa guerra europeia.
  • A estas causas psicológicas, estratégicas, políticas, juntam-se causas morais, filosóficas ou ideológicas. É a legitimação que o pensamento político europeu elabora para justificar a realidade colonial. Retirando o seu argumento principal da sua superioridade, do seu avanço técnico e cultural, a Europa crê-se com deveres para com os outros continentes. A sua civilização é universal, ela deve elevar pouco a pouco os outros povos para o mesmo nível de civilização.
  • A estas causas psicológicas, estratégicas, políticas, juntam-se causas morais, filosóficas ou ideológicas (2): É o tema do «fardo do homem branco», a quem a sua superioridade cria obrigações. É para as cumprir que os Europeus devem arcar com os encargos da administração, da educação. É esta a justificação mais elevada — e muitas vezes sincera — da obra colonial e que começa a ser partilhada pela opinião pública europeia.