As reações e os sinais precursores da descolonização

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  • A dominação política da Europa e a exploração económica, a desigualdade das relações, suscitaram reações desde antes de 1914.
  • É possível apontar sinais precursores do processo que levará, numa quinzena de anos, à desagregação dos impérios que a Europa tinha levado quatro séculos a erigir, os pródromos do movimento. A colonização e, de um modo mais geral, as relações entre a Europa e os outros continentes provocaram duas espécies de reações, muito dissemelhantes, mesmo contrárias, cuja dualidade apresenta alguma analogia com as reações da Europa à questão revolucionária.
  • Existe a imitação, que incita os países a frequentarem a escola da Europa, adoptando as suas maneiras de fazer, em parte para lhe subtraírem os meios da sua superioridade e talvez voltá-los um dia contra ela, mas também a rejeição, a recusa e a resistência, que inspiram os movimentos de dissidência, a rebelião, as guerras, que as populações indígenas travam contra o invasor. Estes movimentos, que conduzem a resistências armadas, são suscitados por um cioso apego ao passado nacional e pela recusa categórica de todas as contribuições estrangeiras.
  • Estas duas reações de sentido contrário — uma de isolamento e de recusa e a outra de abertura — são as duas fontes dos nacionalismos coloniais — como antes das nacionalidades europeias — que, desde antes de 1914, opuseram obstáculos à colonização. Nos dois decénios que precederam a Primeira Guerra Mundial podem detetar-se os sinais anunciadores das crescentes dificuldades que as nações colonizadoras vão conhecer.
  • O acontecimento mais importante é a guerra russo-japonesa de 1905-1906, que assinala a derrota da Rússia, a primeira vitória numa guerra clássica de um povo de cor sobre os brancos. A sua repercussão foi considerável em todo o continente asiático. Na Índia, na Indochina, por toda a parte, os povos viram nessa vitória a prova de que um dia seriam capazes de desafiar o invasor. Pode datar-se daí o despertar da Ásia, as primícias da sua emancipação e desse grande movimento dos povos de cor que culminará, precisamente meio século mais tarde, na Conferência de Bandung (1955).
  • Assim, nas vésperas de 1914, a situação é já ambivalente. Seguramente a Europa exerce sobre o universo um domínio ainda quase sem falha. Dirige a exploração e a valorização desse universo: fala-se e pensa-se europeu, governa-se à europeia, mas há já sinais premonitórios do seu recuo e podem já distinguir-se os primeiros abalos da Europa.