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  • O principal problema dos governos era, para eles, fiscal: como pagar as guerras. Deveria ser por meio de empréstimos, de impostos diretos, e, em qualquer dos casos, em que termos exatos? Consequentemente, eram os tesouros ou ministérios de Finanças que eram vistos como os comandantes da economia de guerra.
  • A Primeira Guerra Mundial, que durou tão mais do que os governos haviam previsto, e consumiu tão mais homens e armamentos, tornou impossíveis os "negócios como sempre" e, com eles, a dominação dos ministérios de Finanças, embora funcionários do Tesouro ainda balançassem a cabeça diante da disposição dos políticos de buscar vitória sem contar os custos financeiros. Estavam certos, claro.
  • A Grã-Bretanha travou as duas guerras muito além de seus meios, com consequências duradouras e negativas para sua economia. Contudo, se se tinha de travar a guerra em escala moderna, não só seus custos precisavam ser levados em conta, mas sua produção — e no fim toda a economia - precisava ser administrada e planejada.
  • Os governos só aprenderam isso por experiência própria durante a Primeira Guerra Mundial. Na Segunda, já o sabiam desde o começo, graças em grande parte à experiência da Primeira, cujas lições suas autoridades haviam estudado intensamente. Apesar disso, só aos poucos foi ficando claro como os governos tinham de assumir completamente a economia, e como eram agora essenciais o planejamento e a alocação de recursos (além de pelos mecanismos econômicos habituais).
  • No início da Segunda Guerra Mundial só dois Estados, a URSS e, em menor medida, a Alemanha nazista tinham qualquer mecanismo para controlar fisicamente a economia, o que não surpreende, pois as ideias soviéticas de planejamento eram originalmente inspiradas e em certa medida baseadas no que os bolcheviques conheciam da planejada economia de guerra alemã de 1914-7. Alguns Estados, notadamente a Grã Bretanha e os EUA, não tinham sequer os rudimentos de tais mecanismos.
  • É pois um estranho paradoxo que entre as economias planejadas de guerra dirigidas por governos em ambas as guerras, e em guerras totais isso queria dizer todas as economias de guerra, as dos Estados democráticos ocidentais - Grã-Bretanha e França na Primeira Guerra; Grã-Bretanha e mesmo os EUA na Segunda - se mostrassem muito superiores à da Alemanha com sua tradição de teorias e administração racional-burocrática.
  • A economia de guerra alemã foi menos sistemática e eficaz na mobilização de todos os recursos para a guerra — claro, até depois que a estratégia de ataques relâmpago falhou, não precisava fazê-lo — e certamente cuidou muito menos da população civil alemã.
  • Os habitantes de Grã-Bretanha e França que sobreviveram ilesos à Primeira Guerra Mundial provavelmente estavam um pouco mais saudáveis que antes da guerra, mesmo quando eram mais pobres, e o salário real de seus trabalhadores havia subido. Os alemães estavam mais famintos, e os salários reais de seus operários haviam caído. As comparações são mais difíceis na Segunda Guerra Mundial, a França foi logo eliminada, os EUA eram mais ricos e sob muito menos pressão, a URSS mais pobre e sob muito mais.
  • A economia de guerra alemã tinha praticamente toda a Europa para explorar, mas acabou a guerra com muito maior destruição física que os beligerantes ocidentais. Mesmo assim, no conjunto uma Grã-Bretanha mais pobre, cujo consumo civil caíra em mais de 20% em 1943, encerrou a guerra com uma população ligeiramente mais bem alimentada e saudável, graças a uma planejada economia de guerra sistematicamente voltada para a igualdade e justeza de sacrifício, e justiça social.
  • O sistema alemão era, claro, inequitativo em princípio. A Alemanha explorou os recursos e a mão-de-obra da Europa ocupada, tratou as populações não alemãs como inferiores e, em casos extremos — poloneses, mas sobretudo russos e judeus —, praticamente como mão-de-obra escrava descartável, que não precisava nem ser mantida viva. A mão-de-obra estrangeira aumentou cerca de um quinto da força de trabalho na Alemanha em 1944. Mesmo assim, o máximo que se pode afirmar sobre os próprios trabalhadores alemães é que seus ganhos reais permaneceram os mesmos que em 1938.
  • A mortalidade infantil britânica e as taxas de doença caíram progressivamente durante a guerra. Na ocupada e dominada França, um país proverbialmente rico em alimentos e fora da guerra depois de 1940, declinaram o peso médio e a forma física da população em todas as idades.