Cards (4)

  • Entre o século XIX e o século XX a linha de separação é, assim, marcada por aquilo a que se chamou a Grande Guerra, até que apareceu outra, em 1939, que a desclassificou e despojou do seu epíteto qualitativo, substituindo-o por um banal numeral ordinal.
  • Os historiadores tiveram por vezes alguma relutância em aceitar como critério determinante um evento militar e, subsidiariamente, diplomático: não era isto ceder a uma concepção obsoleta da história? Não tendia uma das linhas mestras das ciências humanas a transferir a atenção para outros factos de civilização? Será, pois, a amplitude destas consequências que justifica que ainda hoje datemos a entrada no século XX da eclosão do primeiro conflito?
  • Direta ou indiretamente, a Primeira Guerra Mundial transformou os países que nela participaram, bem como os outros. Alterou os regimes, desordenou as economias, transtornou as sociedades, mudou por completo as relações internacionais, modificou o sistema de forças políticas; teve consequências nos espíritos e repercussões na história das ideias. Em vista do conjunto dessas consequências, não é disparatado continuar a julgar que a guerra de 1914-1918 constituiu uma ruptura decisiva na história do século passado.
  • Do Verão de 1914 ao Outono de 1989, o século XX durou então exactamente três quartos de século: uma duração inferior à do século propriamente dito, mais curta do que a do século XIX, mas cuja brevidade foi compensada, e largamente, pela sucessão dos acontecimentos, a densidade das experiências e a extensão das mutações. Século de ferro, talvez um dos mais negros da história, que traiu as esperanças que os finais do século XIX nele haviam depositado e que nos lembra que a história pode ser trágica. Século que deixa aos seus herdeiros uma sucessão difícil.