As dificuldades externas

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  • Ao lado das dificuldades internas, as dificuldades externas: entre umas e outras há por vezes interferências. As dificuldades que as nacionalidades suscitam à Áustria-Hungria encontram alimento além-fronteiras. Ela pode esperar resolver de um só golpe tanto as suas dificuldades internas como as que os seus vizinhos lhe causam. A separação da Sérvia suprimiria o pólo de atração que o mito de uma grande Sérvia exercia sobre as nacionalidades croata, sérvia, eslovena, bósnia, herzegovina.
  • São estes os aspetos de um fenómeno que foi uma causa determinante do conflito: o movimento das nacionalidades, a aspiração à independência nacional, a reivindicação da unidade ou do separatismo, conforme as situações. Os nacionalistas tiveram parte no nascimento do conflito. A partir de 1905, a febre aumenta, as paixões exasperam-se até tudo dominarem em 1914. Deste ponto de vista, a guerra de 1914 é bem o resultado dos movimentos que vimos surgir e entrecruzar-se no século XIX.
  • Estes elementos são ainda agravados pela expansão ultramarina e pela corrida aos raros territórios ainda disponíveis. Quase todas as terras foram apropriadas, enquanto o número dos pretendentes aumenta. Os sonhos de hegemonia, as vontades de poder, estendem-se a todo o mundo, e já não apenas à Europa. Projectam-se nos outros continentes.
  • Para a Alemanha é o abandono da política bismarckiana, que era, desde 1871, uma política de paz: Bismarck era suficientemente realista para saber que a Europa não toleraria outros alargamentos territoriais. A Alemanha, no centro da Europa, ligada por tratados à Austria, à Itália, à Rússia, e que mantém boas relações com a Inglaterra, é senhora da paz. Todavia, após a demissão de Bismarck e a chegada de Guilherme II, a Alemanha passa de uma política de equilíbrio europeu à Weltpolitik, que é uma política de expansão aventureira, de hegemonia, portadora de germes de guerra.
  • A situação internacional caracteriza-se a partir de 1900 por aquilo a que se chama a «paz armada». A expressão associa dois elementos característicos: os sistemas de alianças e a corrida aos armamentos.
  • Por um lado, os sistemas de alianças. A França saiu do isolamento, a partir de 1892, com a aproximação franco-russa, a política de Delcassé, que afasta a Itália da Tríplice Aliança, a aproximação com a Inglaterra, a Entente Cordiale, em 1904, o sistema triangular em que se fundem a aliança franco-russa e a Entente Cordiale (1907). Há desde então um outro sistema de alianças frente a frente com o da Tríplice Aliança.
  • Por outro lado, a corrida aos armamentos, a aprovação de leis militares que envolvem, ano após ano, créditos cada vez mais consideráveis, que prolongam a duração do serviço militar, reforçam o armamento, constroem novos arsenais.
  • A conjugação dos sistemas de alianças e da corrida aos armamentos faz crescer o mecanismo da generalização do conflito a partir de uma rivalidade limitada. Eis a originalidade da guerra mundial. Houvera guerras no século XIX, mas sempre limitadas: a de 1914 estendeu-se à Europa e ao mundo em consequência da paz armada.
  • Não deverá subestimar-se o papel dos factores propriamente psicológicos
    — receio do cerco, vontade de ação preventiva —, que explicam a aquiescência ou a resignação à guerra.
  • Desde 1905, as crises sucederam-se quase todos os anos. A Europa entrou em águas perigosas: Tânger em 1905, a Bósnia-Herzegovina em 1908, Marrocos, uma vez mais, em 1911, os Balcãs. em 1912-1913. A guerra ameaça. Uma parte da opinião pública resigna-se e prepara-se. A Europa, nas vésperas do Verão de 1914, está à mercê de um acidente que, relacionando bruscamente todos estes elementos, fará da situação diplomática, política e militar uma máquina infernal.