Cards (10)

  • A vitória dos aliados é também a vitória das democracias e da democracia.
    É interpretada como o triunfo da democracia sobre o antigo regime, os impérios autocráticos, os regimes autoritários. A identificação dos vencedores com os princípios da democracia amplia-se desde que, em 1917, a Rússia czarista saiu da guerra, tendo sido substituída pela grande democracia americana: já não existe qualquer anomalia, a troca da Rússia pelos Estados Unidos completa a identificação de um dos campos com os princípios e os valores da democracia.
  • É o desaparecimento dos impérios históricos, fundados no princípio de legitimidade. As dinastias seculares são destronadas: os Romanov, primeiro, em 1917, na Rússia; mais tarde, nos finais de 1918, os Habsburgos e os Hohenzollern; pouco depois, também a deposição do sultão e a abolição do califado. Por todo o lado, as revoluções provocam a queda dos tronos. Aos contemporâneos, a vitória da França, da Inglaterra e dos Estados Unidos surge como o culminar de mais de um século de lutas, a vingança sobre o Congresso de Viena, a consagração da democracia.
  • Sobre as ruínas destes regimes aristocráticos, monárquicos, absolutistas, a democracia instala-se.
  • A república é proclamada na Alemanha e na Áustria. As assembleias adoptam constituições democráticas. Na Alemanha, o parlamento reunido em Weimar alarga o sufrágio universal às mulheres e aprova a eleição do presidente da república por sufrágio universal.
  • É logo depois da guerra que a Grã-Bretanha completa a evolução iniciada em 1832, suprimindo as últimas excepções ao sufrágio universal. É também imediatamente a seguir à guerra que em Itália entram em vigor as modalidades enunciadas pela lei eleitoral de 1912, sendo reduzidos ou anulados os prazos dilatórios que ela previa. É em França a modificação do regime eleitoral e a introdução da representação proporcional, considerada mais democrática.
  • A democratização alarga-se, para além das formas políticas, à organização social, à regulamentação das questões do trabalho. Em 1919, o governo de Clemenceau faz aprovar o dia de trabalho de oito horas em França. O Tratado de Versalhes é o primeiro a incluir um capítulo que diz respeito à organização das relações sociais, com a instituição do Bureau Internacional du Travail, que deve preparar a codificação das legislações sociais, a elaboração de uma carta internacional do trabalho e das relações entre os empregadores e os assalariados.
  • A democracia atinge, finalmente, as próprias relações internacionais. É o fim da diplomacia secreta, considerada responsável pelo deflagrar do conflito. Se a diplomacia se desenrolasse na praça pública, os povos velariam por que não alimentasse novos conflitos. Crê-se que a substituição de uma diplomacia secreta por uma diplomacia aberta suprimiria os germes de conflito.
  • A Sociedade das Nações estendeu às relações internacionais princípios e práticas que, pouco a pouco, se generalizaram no interior dos Estados: discussão pública, deliberação parlamentar, solução das questões através da maioria dos sufrágios. A Sociedade das Nações é a universalização do regime parlamentar e, aparentemente, o triunfo definitivo do direito sobre a força, a instauração de uma ordem jurídica que destrona as soluções de violência.
  • Assim, tanto nos novos arranjos territoriais, inspirados no princípio do direito dos povos à autodeterminação, como na nova organização política, social, internacional, a nova ordem da Europa de 1920 inspira-se na democracia.
  • Durante o desanuviamento que sucedeu ao armistício, sob o efeito da euforia propícia às ilusões, os contemporâneos puderam pensar que se chegara ao fim da história. A Europa, e o mundo com ela, tinha chegado ao termo das suas inquietações, das suas memórias. Era a vitória do direito e o triunfo da democracia, coroando a marcha da humanidade para uma sociedade mais humana, mais livre e mais justa.