O reverso da medalha

• Apesar de tudo, este aspecto constitui apenas uma parte da realidade: a mais visível. Mas o recuo do tempo e uma visão retrospectiva põem em evidência um outro aspecto, menos imediatamente perceptível, menos agradável também e cujos contornos se revelaram pouco a pouco. De facto, o fim das hostilidades e a resolução dos conflitos não suprimiram, ipso facto, um certo número de problemas, uns nascidos da guerra, outros anteriores, mas que a guerra não resolveu.
• A guerra, pela sua duração, extensão e características, provocou toda a espécie de mudanças, algumas das quais produziram, por sua vez, efeitos irreversíveis.
• A guerra está na origem de múltiplas transformações que dizem respeito à economia, à sociedade, aos costumes e também às ideias e mentalidades. Os efeitos destas transformações far-se-ão sentir gradualmente e não terão o mesmo peso em todos os países.
• A profundidade de tais transformações depende de duas coisas: sendo a sua amplitude proporcional à intensidade do esforço de guerra, depende da extensão da participação na guerra; o segundo factor é a posição dos beligerantes no fim do conflito, conforme os países se encontrem no campo dos vencedores ou dos vencidos. Este dado é determinante.
• Para os vencidos, às destruições da guerra que atingiram quase todos os países indistintamente juntam-se as misérias da derrota: a ocupação mais ou menos prolongada; o peso das reparações impostas pelos tratados de paz; as consequências do derrube dos regimes e a instabilidade que se lhe segue; enfim, os traumatismos causados pela amputação territorial, que desorganiza a economia e deixa uma ferida moral perdurável. Eis o conjunto de gravames e sofrimentos que para os países vencidos, Áustria ou Alemanha, vem acrescentar-se às consequências vulgares da guerra.