As relações entre o poder e os indivíduos

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  • Entre os poderes públicos e a iniciativa privada, individual ou colectiva, as máximas tradicionais do Estado liberal, até então reconhecidas e respeitadas, deixaram de ser aplicáveis durante a guerra. A filosofia liberal acantonava o Estado num domínio muito restrito: manutenção da ordem, administração da justiça, relações externas, defesa nacional. Quanto ao resto, o poder público devia abster-se de se imiscuir num domínio que relevava da iniciativa privada.
  • A guerra obrigou por toda a parte o Estado a abandonar esse papel, a mobilizar não só os homens, mas também os recursos materiais. A necessidade é imposta pela eficácia, o desejo de ganhar a guerra, mas também pela preocupação de justiça e a obrigação de um mínimo de equidade indispensável à coesão moral da nação.
  • O Estado teve então de tomar em mãos a direção da economia, regulamentar as atividades, mobilizar todos os recursos. Tornou-se produtor, comanditário, empregador, cliente: o governo fixa as prioridades, faz as encomendas, constrói fábricas, orienta a investigação, reparte a penúria. Alarga a sua intervenção às relações entre os grupos sociais: com a concordância dos sindicatos, o Estado regulamenta o nível dos salários, a duração do trabalho. Congela as rendas de casa e intervém nas relações entre proprietários e locatários.
  • Grande parte destas inovações sobreviverá às circunstâncias que as impuseram. Por diversas razões, algumas das quais são circunstâncias de facto, a situação continua a exigir a intervenção do Estado. O fim da guerra não devolveu a sociedade e a economia ao seu estado anterior. É preciso assegurar a desmobilização progressiva da enorme máquina de guerra e preparar a sua reconversão. A penúria persiste: serão necessários vários anos até que se reencontre um nível de produção capaz de satisfazer a procura sem controle nem racionamento.
  • Para além disso, os hábitos adquiridos persistem: a guerra afetou duradouramente as relações entre poder público e iniciativa privada. Deixou marcas na própria estrutura dos governos: as administrações criadas entre 1914 e 1918 persistem; o número de funcionários inchou e o orçamento dilatou-se.