Nos países onde é totalmente nova, a democracia parece mal adaptada às circunstâncias e aos problemas.
Nos novos Estados que acabam de se constituir graças ao desmembramento do império dos Habsburgos ou por se terem separado do império dos czares, a forma democrática impôs-se sem discussão: essas jovens nações adoptaram com entusiasmo as instituições dos vencedores, aos quais deviam a sua independência e o seu renascimento.
Mas as condições elementares para que um regime parlamentar possa funcionar correctamente não estavam preenchidas. Precisamente por terem estado muito tempo submetidas a um domínio estrangeiro e privadas da sua personalidade nacional, nenhuma tradição tivera tempo ou ocasião para se formar; não tinham podido fazer a aprendizagem progressiva de uma vida política em liberdade.
As estruturas sociais também não se prestavam a isso: nesta parte da Europa não existe o equivalente da burguesia ocidental. Faltam essas categorias intermediárias entre os grandes proprietários rurais e os camponeses servos nas quais a administração e os partidos políticos recrutam naturalmente os seus quadros.
A instrução elementar está muito pouco difundida. Os camponeses são iletrados.
Acrescentem-se as rivalidades étnicas que subsistem internamente (ex: na Polónia, entre Polacos e Ucranianos).
Por toda a parte, a experiência das instituições democráticas é imperfeita. A democracia parlamentar funciona mal, encontra pouco apoio num espírito público que ainda não existe. Mostra-se impotente para fundar um Estado estável, uma nação unificada.
Rapidamente, as instituições parlamentares são varridas por golpes de força que as substituem por regimes autoritários.
A Itália tinha dado o exemplo com a marcha sobre Roma e o estabelecimento do fascismo (Outubro de 1922). O modelo é imitado: outros países enveredam pela mesma via na década 1920-1930.
Na Polónia, o marechal Pilsudsky, o libertador da Polónia, o restaurador da sua independência, apoia-se no exército e também nos sindicatos: estes regimes autoritários apoiam-se amiúde em forças populares. São geralmente menos reacionários do que os grandes proprietários rurais. Pilsudsky toma o poder. Embora conserve a fachada da Constituição revista, detém de facto a realidade do poder. O regime de ditadura sobreviver-lhe-á: Pilsudsky morre em 1935. Segue-se-lhe o chamado governo dos coronéis.
Na Jugoslávia é o rei Alexandre I que estabelece uma espécie de ditadura real para manter a coesão do jovem Estado multinacional, onde lavram forças centrífugas, onde Croatas e Eslovenos aceitam dificilmente a predominância dos Sérvios.
É toda a Europa oriental, danubiana e balcânica, essa parte da Europa que sempre esteve atrasada política,intelectual e economicamente em relação à Europa ocidental, a mesma Europa do despotismo esclarecido, que, dois séculos mais tarde, recorre a formas de governo que ilustram a sua posteridade.