Cards (6)

  • Uma segunda ordem de causas e indícios tem a ver com as forças políticas. O período entre as duas guerras é marcado pelo aparecimento — ou pelo reforço — de novas forças, que voltam a pôr em questão o sistema de forças no qual assentava o funcionamento harmonioso da democracia clássica.
  • Em 1848 e 1918, a prática regular do sufrágio universal em todos os países que o tinham adoptado mantivera no poder uma classe de notáveis: já foi chamada a atenção para o paradoxo dos efeitos conservadores do sufrágio universal. Em França, em 1848 e novamente em 1871, a consulta ao país renovou os mandatos que os notáveis detinham. O sufrágio universal não subvertera as condições de exercício do poder nem operara a transferência brutal de uma classe para outra. A evolução tinha-se efetuado por uma adaptação gradual dos partidos tradicionais.
  • No entanto, com a guerra precipitam-se certas transformações que tinham começado anteriormente. Por um lado, profundas mudanças assinalam a transição de uma sociedade de tipo individualista para uma sociedade de grupos. O fenómeno é particularmente manifesto em França. A sociedade saída da revolução caracterizava-se pela supressão de todos os agrupamentos intermediários. Deixava frente a frente o poder e o cidadão e nada entre eles. O individualismo era o princípio e a regra. Mas os grupos conquistaram pouco a pouco o direito de cidade.
  • No entanto, com a guerra precipitam-se certas transformações que tinham começado anteriormente (2): Em todos os sectores gera-se um movimento para constituir agrupamentos de defesa e de reivindicação. O fenómeno é geral. Nenhum país da Europa ocidental lhe escapa. É o surto das trade unions e de um novo sindicalismo, em Inglaterra, nos fins do século XIX; e o mesmo se passa na Alemanha e nos países do Norte. O Estado tem de contar a partir de então com novos interlocutores.
  • No entanto, com a guerra precipitam-se certas transformações que tinham começado anteriormente (3): O Estado tem de contar a partir de então com novos interlocutores. Deixa de encontrar à sua frente uma miríade de individualidades, mas forças organizadas, sindicatos, agrupamentos profissionais, que têm as suas exigências, tomaram consciência dos seus interesses e exercem sobre o poder público uma pressão através dos meios mais apropriados.
  • A posição do Estado modifica-se assim profundamente: investido de novas responsabilidades e atribuições, mas cercado pelas forças sociais. Dividido no seu interior entre poderes que se combatem, é assediado pelos agrupamentos. A relação de forças modificou-se contra si: a democracia paga o preço dessa mudança.