Em que consiste o acontecimento de 1929?

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  • Não se trata de uma revolução industrial. Não tem origem numa inovação técnica. É uma crise. Não é a primeira, visto que as crises económicas se tinham reproduzido no século XIX a um ritmo quase regular, a ponto de se afigurarem como constitutivas do regime capitalista. O espectáculo destas crises tivera um papel determinante no nascimento do pensamento socialista: de algum modo, pareciam ser a contrapartida das leis naturais e da concorrência. Porém, a crise de 1929 é diferente das precedentes, sobretudo pelas suas repercussões.
  • A crise estala nos Estados Unidos em Outubro de 1929, em plena prosperidade. O período que a precede continua a ser designado, na história americana, como a era da prosperidade, inaugurada logo a seguir à guerra.
  • É, em primeiro lugar, uma crise de crédito que estala na Bolsa de Nova Iorque, em Wall Street, uma falha do mecanismo do crédito, que se acredita ser momentânea. Na famosa quinta-feira negra, 24 de Outubro de 1929, os títulos postos à venda não encontram compradores, numa proporção inquietante: cerca de 70 milhões de títulos são lançados no mercado sem contrapartida.
  • É a derrocada das cotações: a perda total é avaliada em 18 mil milhões. O fenómeno repete-se nos dias seguintes, amplia-se por um processo cumulativo que abala a confiança, mola real do crédito na economia liberal. O parentesco dos dois termos - confiança e crédito - sublinha a solidariedade entre os dois aspectos. 
  • Esta crise de crédito revela a sobreavaliação dos valores: na maior parte tinham cotações muito superiores ao seu valor real e comercializável. A crise sanciona, pois, uma especulação excessiva, uma inflação de crédito. Para os especialistas, trata-se de um acidente técnico que saneará o mercado e permitirá um regresso à ordem, e o presidente dos Estados Unidos, o republicano Hoover, que ocupa a Casa Branca há apenas alguns meses, assegura aos seus compatriotas que o fim da crise está próximo e a prosperidade ao virar da esquina; repeti-lo-á durante quatro anos.
  • Todavia, contrariamente à expectativa geral dos técnicos, do presidente e dos eleitores que nele tinham votado, a crise instala-se: perdura e atinge outros sectores da economia americana e também outros países.