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  • Mas o século XIX estava ainda dominado pelo espírito "crítico" do Iluminismo e não conseguia adotar o carácter organizacional que lhe era orgânico. Existe uma disjunção entre as instituições do industrialismo, nomeadamente a ação administrativa, e a cultura mais vasta.
  • Os escritos de Saint-Simon durante a década de 1820 apontam para uma questão importante que tinha escapado em grande medida aos filósofos do século XVIII e aos teóricos sociais do progresso: no passado, a sociedade civil e o Estado estavam ligados por uma regulação social que decorria das instituições tradicionais e da estrutura dos valores tradicionais. Mas com a separação entre o Estado e a sociedade civil, o problema da regulação social colocou-se de forma aguda.
  • A autoridade tradicional já não podia legitimar as formas políticas: surgiu assim um vazio moral na sociedade moderna. Saint-Simon rejeitou o ponto de vista dos economistas políticos, segundo o qual o mercado harmonizava interesses diferentes e muitas vezes contraditórios numa unidade social e, por conseguinte, moral. A coesão social não resultaria do livre jogo das forças puramente económicas.
  • A sociedade industrial necessitava de um centro moral forte, que ele descreveu como uma religião secular que se opunha ao egoísmo do individualismo filosófico e funcionava através de um sacerdócio de artistas, cientistas e líderes industriais cujos interesses eram idênticos aos das massas.
  • A regulação social é assim descrita como um processo dirigido de cima para baixo por uma elite de intelectuais. Apesar de Saint-Simon ter uma imagem da sociedade industrial como uma empresa cooperativa, definiu a sociedade industrial como um sistema organizado em torno dos princípios da hierarquia funcional, da disciplina racional e da liderança selectiva.
  • Saint-Simon não defendia, contudo, uma nova forma de autoridade centralizada; a autoridade é devolvida à sociedade civil e investida, não no controlo dos indivíduos, mas nas instituições de planeamento, cooperação e produção. A sociedade industrial não era uma utopia comunista, mas uma estrutura hierárquica que tinha produzido uma nova classe dirigente de cientistas e industriais. Os cientistas estavam associados ao domínio espiritual, os industriais ao temporal: juntos, criariam a liderança e os valores necessários para uma sociedade moderna funcional.
  • Há, aqui, uma vertente autoritária no pensamento de Saint-Simon, uma desconfiança em relação à democracia e às instituições representativas, uma falta de confiança nas massas, ou no povo, para criar para si próprio uma cultura de auto-governo. A sua distinção entre classes produtivas e não produtivas, ou "ociosas", é mais polémica do que científica.
  • Saint-Simon não conseguiu desenvolver uma teoria sociológica da classe: a sua principal preocupação foi sempre com os que produziam e os que consumiam, os proprietários industriais, os investidores e os banqueiros eram os produtivos, os militares, a nobreza, os advogados e os que viviam dos lucros eram os ociosos. Os que produziam coisas "úteis" eram os únicos membros valiosos da sociedade e, por esta razão, a política era definida como a ciência da produção e a nova sociedade, que emergia das ruínas da Europa pós-revolucionária, era industrial, tecnocrática e antidemocrática.