Comte e a ciência positiva

• Saint-Simon não desenvolveu uma sociologia distintiva. Auguste Comte, que chegou a ser secretário de Saint-Simon, publicando os seus primeiros trabalhos sob o nome de Saint-Simon, fundou o primeiro sistema abrangente de sociologia, fortemente influenciado pela obra de Saint-Simon e pela sua crença na ciência e na tecnologia, e "essa escola imortal" de Bonald e Maistre com o seu conceito de sociedade como um todo orgânico e harmonioso composto, tal como a sociedade medieval, por ordens sociais diferentes e estáticas.
• Comte tentou conciliar as teorias anti-atomistas de Bonald e Maistre com o conceito racionalista de progresso e a noção de perfetibilidade do homem.
• Tal como Saint-Simon, a obra de Comte foi produzida num período crítico da história francesa, o período que se seguiu à revolução, no qual o antigo regime se tinha desintegrado e um novo regime industrial estava em processo de formação. O positivismo sociológico de Comte foi forjado ao mesmo tempo que Balzac descrevia, sob a forma de ficção, a ascensão irresistível dos industriais e dos banqueiros numa cultura francesa ainda permeada pelos velhos valores aristocráticos.
• Assim, apesar de os intérpretes de Comte notarem a sua forte tendência conservadora e depreciarem a influência na sua sociologia de Maistre e Bonald, o seu lugar na história da sociologia é garantido pelas suas tentativas de explicar a origem e o crescimento da sociedade industrial e pela sua análise dos efeitos sociais da divisão do trabalho, do aumento da riqueza e do desenvolvimento do individualismo, bem como pela sua rejeição da metafísica em favor de métodos empíricos positivos no estudo dos factos sociais.
• A atitude de Comte em relação ao Iluminismo era, evidentemente, negativa: embora aceitasse a teoria do progresso, rejeitava o positivismo crítico do racionalismo filosófico do século XVIII, abominando os seus ataques "negativos" aos valores da autoridade e da moralidade tradicionais, às instituições religiosas e à família.
• Comte rejeitava, em particular, o ponto de vista iluminista segundo o qual a sociedade pré-industrial, especialmente a Idade Média, constituía a idade das trevas da civilização.
• Concordava com Saint-Simon que o século XVIII só tinha destruído, em vez de lançar as bases de um "novo edifício". Esta nova estrutura deveria ser orientada exclusivamente no interesse da ordem social e do consenso social. O "objetivo essencial da política prática", escreveu, era "evitar as revoluções violentas que nascem de obstáculos opostos ao progresso da civilização.”