Ao depositar grande confiança na razão, considerando ser possível alcançar a certeza e a verdade, a filosofia cartesiana enquadra-se no dogmatismo, opondo-se ao ceticismo de Hume.
A gnosiologia, ou teoria do conhecimento, é a disciplina filosófica que estuda o conhecimento, procurando esclarecer e analisar criticamente os problemas suscitados pelas relações entre o sujeito e o objeto.
O conhecimento verifica-se quando um sujeito apreende um objeto.
O sujeito é aquele que conhece; o objeto, aquilo que é conhecido.
O sujeito, interagindo com a realidade, também constrói o objeto ao representá-lo.
Existem diferentes tipos de conhecimento: o saber-fazer-conhecimento de atividades, o saber-que-conhecimento de proposições ou pensamentos verdadeiros, e o conhecimento por contacto-conhecimento direto de alguma realidade.
A realidade designa o que efetivamente existe ou é.
O conceito de realidade possui outros significados: aquilo que se opõe ao aparente e ao nada, o que não é potencial, mas atual, o que existe independentemente do sujeito, o que nos é dado na experiência, o que é (ou pode ser) esclarecido pelo conhecimento científico.
Ao nível do conhecimento proposicional, a crença - atitude de adesão a uma determinada proposição, tomando-a como verdadeira - é uma condição necessária do conhecimento, mas não é uma condição suficiente: a verdade e a justificação da crença são outras condições necessárias.
Platão apresentou a definição clássica ou tradicional de conhecimento: o conhecimento é uma crença verdadeira justificada.
Edmund Gettier contestou essa definição, apresentando contraexemplos que revelam a possibilidade de termos uma crença verdadeira justificada sem que ela corresponda a conhecimento.
Distinguimos o conhecimento a priori, justificado pela razão - baseia-se em juízos a priori (universais e necessários) - , e o conhecimento a posteriori, justificado pela experiência - baseia-se em juízos a posteriori (não estritamente universais, sendo contingentes).
De acordo com o racionalismo, a razão - ou entendimento - é a fonte principal do conhecimento - conhecimento universal e necessário, totalmente independente da experiência.
Existem fundamentos no empirismo, no racionalismo ou numa combinação dessas duas fontes.
Os fundacionalistas evitam a regressão infinita da justificação a partir das crenças básicas, que suportam o sistema do saber e que se justificam a si mesmas.
As crenças não básicas são justificadas por outras crenças.
O dogmatismo é a atitude que não coloca o problema do conhecimento, a confiança de que a razão pode atingir a certeza e a verdade, a submissão, sem exame, a certos princípios ou à autoridade de que pro vêm, e o exercício da razão sem uma crítica prévia da sua capacidade.
O ceticismo é uma corrente que afirma não ser possível ao sujeito apreender, de um modo efetivo ou então de um modo rigoroso, o objeto.
Existem formas localizadas de ceticismo, que incidem sobre um conhecimento determinado.
O ceticismo absoluto ou radical é diferente do ceticismo mitigado ou moderado, sendo o primeiro fundado por Pirro de Élis, que nega qualquer conhecimento.
Alguns argumentos conduzem à dúvida e levam os céticos à suspensão do juízo, a qual conduziria à ataraxia, como a multiplicidade de sensações e perceções divergentes relativamente ao mesmo objeto, as ilusões e erros dos sentidos, a divergência de opiniões, a regressão infinita da justificação.
O ceticismo mitigado encontra-se em Arcesilau e Carnéades, que não afirmam a impossibilidade do conhecimento, antes a de um saber rigoroso.
Descartes era racionalista, considerando a razão a fonte principal do conhecimento universal e necessário.
O método de Descartes, inspirado na matemática, tem as seguintes regras: evidência, análise, síntese e enumeração/revisão.
A sabedoria humana permanece una e idêntica, com a filosofia sendo comparada a uma árvore cujas raízes equivalem à metafísica, o tronco à física e os ramos a todas as outras ciências.
A dúvida, posta ao serviço da verdade, traduz um momento importante do método, recusando todas as crenças em que note a mínima suspeita de incerteza.
O modelo do conhecimento é nos dado pela matemática.
As crenças que se obtêm através dos sentios são confusas e, frequentemente, incertas.
O empirismo é uma doutrina segundo a qual a experiência é a fonte principal do conhecimento.
Existem ideiasinatas.
A dúvida cartesiana é metódica, provisória, hiperbólica, universal e radical, constituindo um exercício voluntário e uma suspensão do juízo.
A dúvida conduz à afirmação da «minha existência» — «Penso, logo existo» («Cogito, ergo sum»), afirmação verdadeira, evidente, indubitável, obtida por intuição, a priori, e que servirá de paradigma para as várias afirmações verdadeiras.
O cogito fornece o critério de verdade: a clareza e distinção.
A clareza diz respeito à presença da ideia ao espírito.
A distinção equivale à separação de uma ideia relativamente a outras.
O cogito surge como crença fundacional ou básica: serve de alicerce a todo o sistema do saber, apresentando a condição da dúvida hiperbólica (existir) e impondo uma exceção à sua universalidade.
A existência é indissociável do pensamento: a natureza do sujeito consiste no pensamento, que se refere a toda a atividade consciente e equivale à alma, que é distinta do corpo e conhecida antes dele e de tudo o resto.
Além disso, o cogito é uma certeza subjetiva.
O sujeito pensante possui ideias: adventícias, que têm origem na experiência sensível, e inatas, que são constitutivas da própria razão.