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  • As transformações mais visíveis, talvez também as mais decisivas que afetam o século XIX, as suas estruturas e os seus ritmos, dependem da economia e estão ligadas à revolução industrial, ao florescimento de invenções que aumentam subitamente o poder do homem sobre a matéria, ao maquinismo e à sua aplicação à produção. Esta revolução técnica suscita novas formas de atividade profissional, modifica as condições de trabalho e origina, por um encadeamento de causas e efeitos, novos tipos sociais.
  • Surge um patronato diferente do negociante-empresário ou do proprietário de manufacturas do século XVIII. Ligado mais estreitamente ao crédito e à banca, ele é uma das componentes da nova sociedade capitalista que se desenvolve usando as facilidades proporcionadas pelo liberalismo triunfante. Contudo, se este patronato é importante pelo poder económico que detém, pelas responsabilidades que exerce, quase não conta no plano das forças políticas, sobretudo a partir da instauração do sufrágio universal.
  • Muito mais importante numericamente é a categoria dos operários da indústria, que constituem uma classe relativamente nova, distinta dos operários do antigo regime. Sob o antigo regime, o que nós chamamos operário estava próximo do artífice, enquanto a revolução industrial, a concentração e o maquinismo suscitam a formação de uma classe que anuncia já o proletariado contemporâneo. Esta classe compõe-se essencialmente de pessoas vindas do campo, onde não encontravam trabalho, e que se fixam nas cidades. A sua vinda é um dos factores do crescimento dos aglomerados urbanos nos séculos XIX e XX.
  • A oposição entre cidade e campo acentua-se com a sociedade industrial. Na economia do antigo regime, os laços mantêm-se estreitos entre a cidade e o campo, que viviam em osmose. As cidades eram pequenas, o campo cercava-as e as relações eram múltiplas. À medida que a cidade cresce, que se reforça a coincidência entre as atividades de tipo industrial e a aglomeração urbana, diferenciam-se. A evolução faz divergir os seus destinos e os seus interesses e,
    no plano das forças políticas, as suas opções, as suas simpatias.
  • A sociedade rural mantém-se tradicional, respeita a ordem estabelecida: a submissão aos costumes, às autoridades, é nela cultivada como uma virtude. Ela é, pelo menos temporariamente, conservadora. Os camponeses, que são a maioria, não estão ainda completamente emancipados do conformismo, do respeito dos valores tradicionais e da hierarquia social. Não é, pois, do lado do campesinato que a ideia democrática vai recrutar os seus defensores.
  • Também não o é, pelo menos na primeira geração, do lado da classe operária. Com efeito, esta classe operária em formação fica muito tempo passiva. Passiva ou revoltada, e não integrada na sociedade. Passiva, pois é a herdeira de uma longa tradição camponesa de resignação, ou revoltada e rejeitando ao mesmo tempo o regime político, a ordem social e as suas crenças. As elites desta nova classe aderirão a doutrinas revolucionárias que não acreditam na democracia política. São o anarquismo e o anarcosindicalismo que primeiro concitam a simpatia e a confiança dos militantes operários.